Afinal de contas, a inteligência artificial vai substituir os humanos?
Com os avanços tecnológicos e da imersão digital, a IA é um insumo imprescindível para aumentar a produtividade dos negócios, exigindo em contrapartida maior reciclagem profissional.
"O aspecto mais triste da vida atualmente é que a ciência coleta conhecimento mais rapidamente do que a sociedade coleta sabedoria" (Isaac Asimov)
Como ponto de partida, inteligência artificial (IA) refere-se à capacidade de um sistema computacional realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. Engloba nesse processo, o aprendizado de máquina (machine learning), processamento de linguagem natural, visão computacional e resolução de problemas complexos.
Em suma, a IA busca criar máquinas capazes de realizar atividades cognitivas, adaptando-se e melhorando com a experiência.
As aplicações de inteligência artificial são vastas e abrangem diversas áreas do conhecimento.
Podemos elencar o reconhecimento de voz, processamento de linguagem natural, visão computacional, sistemas de recomendação, diganósticos médicos, veículos autônomos, dentre outros.
Até mesmo em áreas tradicionais e conservadoras, como por exemplo, o Direito, a tecnologia é usada em bancas de renome para otimizar processos legais, analise de contratos, pesquisa jurídica, triagem de documentos e até mesmo simular resultados de casos com base em precedentes. Além disso, chatbots com IA são usados para forncecer assistência jurídica básica, para nortear uma consulta futura com um especialista.
Conforme se infere do exemplo narrado a função precípua deste artefato tecnológico não é se sobrepor/substituir o labor humano, mas apenas visa melhorar a eficiência e a precisão no campo do conhecimento utilizado, como meio de maximizar a produtividade e a excelência no serviço prestado, minorando os riscos.
Noutros termos, é um complemento das realizações humanas. Nesse contexto, elucida Peter Thiel[1]:
“Deixamo-nos encantar pelos “megadados” somente porque glamorizamos a tecnologia. Ficamos impressionados com pequenas façanhas realizadas apenas por computadores, mas ignoramos as grandes realizações da complementaridade, porque a contribuição humana as torna menos misteriosas. Watson, Deep Blue e algoritmos de aprendizado de máquina cada vez melhores são interessantes. Mas as empresas mais valiosas no futuro não perguntarão quais problemas podem ser solucionados pelos computadores sozinhos. Pelo contrário, perguntarão: Como os computadores podem ajudar os humanos a resolverem problemas difíceis?”
A fábula do imediatismo decorrente das ficções científicas são capazes de nos contagiar a ponto de desprezarmos o papel do homem enquanto entidade soberana independente, dotada de um direito inalienável sobre sua própria vida, oriundo da sua natureza como ser racional, fonte e origem de todas as riquezas.
Levando em consideração esses aspectos o homem é o protagonista e o destinatário de todas as demandas e ofertas criadas no mercado de trabalho, enquanto, as máquinas, são apenas ferramentas modernas, dos meios de produção.
Os preços estão atrelados ao custo de produção, a demanda do produto/serviço, o perfil do cliente almejado, ao lucro e aos valores médios de mercado.
Nesse contexto, a IA é imprescindível de modo a aumentar a produtivade associado a menores custos e tempo.
Já o valor não é algo tangível, porquanto está diretamente relacionado com o benefício, resultado, ou seja, as sensações que aquele produto ou serviço geram no consumidor/cliente. Ele é somado ao preço, fruto do labor e intelecto humano. A centralidade está no ser humano; suas necessidades e desejos.
Assim sendo, a automação de um processo que não agrega valor pode ocorrer quando a tecnologia é aplicada a uma tarefa ou procedimento que é ineficiente, desnecessário ou redundante. Isso geralmente acontece quando as ferramentas de automação são implementadas sem uma análise cuidadosa dos processos e objetivos de negócios.
Por exemplo, se uma empresa automatiza o preenchimento de formulários que raramente são usados ou necessários, isso pode ser considerado uma automação sem valor agregado. Da mesma forma, automatizar um processo que deveria ser reformulado ou eliminado pode levar a mais complexidade e custos, sem melhorar a eficiência ou a eficácia.
Em resumo, é crucial avaliar cuidadosamente os processos de negócios e entender as necessidades e objetivos antes de implementar soluções de automação e IA. Isso ajuda a garantir a sua aplicação de maneira que realmente agregue valor à organização.
As pessoas foram, são e continuarão a ser o ativo primordial de qualquer negócio.
A uma, porque a IA só consegue trabalhar a partir de uma base de dados, ou seja, precisam ser programadas por humanos para que possam interpretar dados. Não são, portanto, autoconsciente como os humanos.
A duas, a IA se ocupa de ofícios rotineiros e "mecânicos", muitas vezes maçantes — como o controle de estoque em uma empresa —, enquanto as habilidades humanas de comunicação, raciocínio, criatividade, liderança e relações pessoais tendem a ser ideais para tarefas mais subjetivas.
Desta forma, a IA vai proporcionar economia de tempo e recursos, simplificando muitas tarefas cotidianas, e por conseguinte, maximizar a produtividade dos negócios, tendo o potencial de modificar consideravelmente o modo de funcionamento das organizações.
No futuro próximo, apesar de não substituir os humanos será imprescindível a proeficiência no uso das ferramentas de software e TI em geral para desempenharem bem suas funções, seja qual for a sua área de atuação, sob pena de obsolescência profissional. O momento carece de maior reflexão, quanto aos seus desdobramentos, mormente a questões éticas[2], para servirem ao progresso científico e material dos povos.
Referências Bibliográficas e Notas:
[1] THIEL, Peter. De Zero a Um. Trad. Ivo Korytowski. 1ª.ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.Pag. 109.
[2] Nesse contexto, as três leis da robótica de Asimov em seus livros são: (i) um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal; (ii) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que essas ordens entrem em conflito com a primeira lei; (iii) um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores. Vale a pena a leitura para melhor reflexão e fomento de discussões na vida real sobre a ética da inteligência artificial e da robótica.
Para saber mais:
ASIMOV, Isaac (1974) Os Robôs. São Paulo: Hemus.
___ (1983) Os robôs do amanhecer. Rio de Janeiro: Record.
___ (1986) Os Robôs e o Império. Rio de Janeiro: Record.
*Foto: Free-Photos por Flickr (Imagem ilustrativa).