A arte de humanizar as relações de trabalho

A arte de humanizar as relações de trabalho

ESG e o programa de outplacement como produtos da transformação social no universo corporativo.

"...primeiro embarque no ônibus as pessoas certas, desembarque as pessoas erradas e coloque as pessoas certas nas poltronas certas; em seguida, decida para onde deve conduzir o ônibus" (Jim Collins)

 

A liberdade da iniciativa econômica força motriz do capitalismo, traz à luz a oportunidade de criar valor para a sociedade por meio da criação de negócios que inovam, empregam, capacitam e fomentam o desenvolvimento profissional e bem-estar dos seus colaboradores e terceirizados.

Uma sociedade livre deve ter os seus próprios mecanismos naturais de solidariedade e cooperação, com senso de responsabilidade social.

As nossas mazelas sociais evidenciam a necessidade de um capitalismo mais solidário e responsável tendo como atores principais os empreendedores, como forma de criar inserção social, dignidade e mercados, em um círculo virtuoso de crescimento e sustentação econômica e social.

Hodiernamente, com a proliferação das mídias sociais e maior conexão da vida social não há mais a dicotomia entre construir um mundo mais sustentável ou ter bons resultados financeiros em uma empresa.

Neste contexto, a ESG sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português) deve ser um componente obrigatório no âmbito corporativo, assim, como o freio ABS, tido como diferencial no passado e hoje, indispensável por sua importância.

Não é apenas uma questão de marketing e sim de ação, por meio da consolidação de um processo de governança em todos os níveis da empresa, começando pelo conselho, com comitês e processos internos, até chegar ao RH e as terceirizadas.

A letra “S” da sigla – Social – concernente a nossa temática, abrange todos os stakeholders corporativos: acionistas, clientes, colaboradores, comunidade, concorrência, equipe envolvida em um projeto, fornecedores, terceirizados, gestores, mídia, governo e sindicatos.   

Para ilustrar sua importância, veja o recente episódio de homicídio cometido por um segurança terceirizado de uma grande rede internacional de hipermercados, em uma de suas lojas.

É óbvia a existência de falha naquele evento, com repercussão negativa a imagem institucional da empresa. Não foi a primeira ocorrência desta natureza, verificada no âmbito da corporação.

Deste modo, a rede tinha ciência sobre a situação crítica da operação nas suas lojas. Em face da sua amplitude, envolvendo um stakeholder você tem que internalizar pelo menos uma parte do treinamento de segurança.  

Caso contrário, a empresa experimentará perdas e rebaixamento de ações no mercado, e até, uma possível destruição de valor, no pior dos cenários, em razão de sucessivas falhas na sua politica de governança com a empresa terceirizada.  

Adotar práticas da ESG agrega valor a uma marca, com engajamento social, promoção, retenção e satisfação de talentos.

Os frutos são notórios: torna a organização mais atraente para investidores e gestores de ativos, aumento de receitas, redução de custos com identificação de oportunidades estratégicas.  

Vimos um exemplo prático relacionado às terceirizadas. Agora, abordaremos a perspectiva de outro stakeholder importante; os colaboradores.

Na casuística, vislumbra-se no âmbito corporativo pátrio a existência de programas de capacitação e aperfeiçoamento de seus colaboradores, maximizando-se a expertise do seu capital humano.

A governança também deve ser empregada no ato de demissão, humanizando as relações de trabalho em todas as suas fases e procedimentos. Contudo, a nossa realidade é diferente. O ato do desligamento é muitas vezes, mal conduzido e finalizado de forma abrupta. Não há uma política de gestão de pessoas.  

Os efeitos nefastos desta omissão são notórios: além do passivo trabalhista, capitaneada pelo elemento passional, a imagem institucional é afetada, sem olvidar dos prejuízos ao seu clima organizacional, produtividade e embaraços a futuras contratações.

Os motivos das demissões são complexos e variados, mas tem como característica comum o fato do contrato de trabalho ter sido rescindido unilateralmente pela empresa, justificando a importância do programa.   

O relacionamento do colaborador com a empresa não termina com a demissão. Esta deve ser uma premissa para um novo paradigma.

Observa-se, nessa casuística, a importância do programa de Outplacement, comum nos países desenvolvidos.

Outplacement é uma solução profissional, elaborada com o objetivo de conduzir com dignidade e respeito os processos de demissão nas corporações. É um sistema de ganhos recíprocos, que busca o benefício de todos os envolvidos.

Para os colaboradores, pode ser um diferencial competitivo de modo a minimizar os impactos do seu desligamento, com disciplina e organização.

A uma, pela faculdade do seu demissor avaliá-lo para um posto futuro na própria empresa, por meio de suporte de especialistas para que ele redefina a trajetória profissional.

A duas, como suporte para transição em sua carreira, por meio de programas de desenvolvimento e capacitação profissional (voucher a cursos livres e de idiomas, por exemplo).  

De todo modo, fique claro a sua diferença em relação ao replacement [1] porquanto não visa à recolocação profissional e sim, fornecer meios para a consecução dos objetivos profissionais do colaborador, mormente aqueles desprovidos de uma rede de contatos ativa (networking) e carentes de recursos técnicos e financeiros.

As vantagens são de ordem emocional; reduz o estresse, ansiedade e profissional; aperfeiçoamento de novas técnicas e conhecimentos e currículos mais assertivos com reflexos favoráveis no tempo de recolocação no mercado de trabalho.

De outra banda, para as empresas é um importante elemento de governança e compromisso com a sua responsabilidade social, prevenção de litígios trabalhistas, favoráveis ao seu clima organizacional e imagem institucional.   

Este programa pode ser adotado em pequenas, médias e grandes empresas. Cabe ao seu gestor, com o auxilio do departamento pessoal e de recursos humanos, avaliar o momento da empresa e da necessidade do serviço antes da sua implementação, com a definição de uma politica coesa de gestão de pessoas.

Estudos realizados pela consultoria BCG [2] apontam impactos positivos às empresas que adotam melhores práticas de governança, como maior lucratividade e consequente acréscimo a seu valor de mercado, ao longo do tempo.

O ambiente de trabalho não se restringe tão somente ao local. Ele abrange os instrumentos de trabalho, o modo de executá-lo e especialmente como o trabalhador é tratado pelo empregador ou tomador de serviço e pelos próprios colegas.

Com habitualidade e sustentabilidade, proporcionado pelas práticas de mercado, o ESG é um importante fator de responsabilidade social e criação de valor a empresa, desde que os ganhos sejam recíprocos, perante os seus stakeholders, potencializando-se a sua propagação, com bons exemplos e resultados. 

 

 Notas

 [1] O outplacemmet é um programa inserido no âmbito da organização, como atividade meio. O replacement é um serviço voltado para a pessoa física que já está desempregada, como atividade fim. Por isso, os profissionais dessa área fazem uma consultoria voltada para reinserir esses profissionais no mercado.

[2] Disponível em: https://www.bcg.com/pt-br/press/25october2017-total-societal-impact. Capturado em 22/04/21.

*Foto:  Free-Photos p//or Pixabay (Imagem ilustrativa)

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