A educação produtiva

A educação produtiva

 

A educação produtiva é aquela direcionada as individualidades e vocações econômicas das cidades.

 

“Onde as necessidades do mundo e os seus talentos se cruzam, aí está a sua vocação” (Aristóteles)

 

A padronização do ensino torna as crianças singelas consumidoras de ideias. Não há espaço para que cada uma delas se aprofunde em determinado estudo de sua preferência, vez que são agrupados somente conforme o critério etário.

As consequências são óbvias: inibição da criatividade, desprezo pelos estudos e analfabetismo funcional, pois os problemas da vida em sociedade não se resumem a uma simples resposta decorada e tecida na avaliação escolar. [1]

Nas faculdades, em diversas ocasiões, a riqueza da diversidade de ideias e pensamentos é sufocada por uma unitária, de consenso acadêmico, resultando, na formação de mentes duplicadas, sem originalidade, como se fossem robôs.

Muitas vezes, não há ambiente favorável à inovação e ao desenvolvimento das individualidades.

Veja-se o caso atual do visionário empreendedor Elon Musk e o ambiente econômico favorável inserido nos seus negócios.

Almejava a criação de um novo método de pagamento via internet, e ajudou a criar o PAYPAL.

Não satisfeito, pretendia um carro elétrico inovador e contribuiu para a fundação da TESLA MOTORS.

Delirando, talvez, sonhava ver as pessoas indo ao espaço, e, então contribuiu para o surgimento da SpaceX.

Elon não reclamou de como o mundo é. Optou por transformá-lo.

Contudo, em tempos de ESG [2], indagamos: estes novos empreendimentos tiveram retorno social, para a melhora da qualidade de vida e inserção social ou apenas, repercutiram de forma isolada, para melhor deleite da elite? Ofereço a você, leitor, essa reflexão.

A tecnologia deve estar imbuída na missão social de erradicar a miséria, contribuindo para o ingresso de pessoas carentes e/ou pertencentes a minorias sociais no ensino superior e no mercado de trabalho.

Veja-se o exemplo das Tech Career [3] consagradas em países como Israel. Trata-se de um programa de treinamento altamente qualificado na área tecnológica, com alto índice de graduados em posições estratégicas e de destaque no âmbito corporativo. O programa é subsidiado, com o apoio combinado do governo e doadores generosos, mas os próprios alunos, cuidadosamente selecionados, também participam dos custos.

A tecnologia social, enquanto inovação é uma ação afirmativa de promoção e ascensão social. É parte de um ecossistema de riquezas, networking, cooperação econômica e capacitação profissional.

Conforme dados obtidos pelo INEP [4] e da OECD Ilibrary [5], no Brasil, o setor público dedica 13,8% do seu gasto total à educação: isso é mais do que qualquer outro país da OCDE. Na média da Organização, essa proporção é de "apenas" 9,8%. Na Nova Zelândia, país que mais se aproxima do Brasil nesse indicador, essa proporção é de 13,0%.

A grande discussão, portanto, não é porque priorizamos pouco a educação, mas sim porque todo este investimento não resultou em maior crescimento econômico. [6]

Nosso país é sui generis e complexo. Todavia, um dos grandes entraves, que justificam esse descompasso entre educação e crescimento econômico, orbita em torno da má alocação de investimentos privados e recursos públicos.

Veja o caso de nossa cidade. Atualmente, o município de Ribeirão Preto abriga 08 (oito) faculdades de Direito, em contraposição ao escasso número de cursos superiores e técnicos de engenharia e tecnologia, a título de exemplo.

Diante desta realidade, o mercado fica extremamente saturado, e, portanto, não há demandas para tantos profissionais deste setor.

O tradicionalismo representado pela educação conteudista deve dar lugar a um programa híbrido, com atividades extracurriculares direcionadas as tendências e a realidade de mercado, e, em conformidade, com as vocações econômicas da cidade.

A formação técnica é imprescindível para se estabelecer no mercado. Há, portanto, a necessidade de maior intercambio da academia com o mercado, seja por meio de eventos, feira de profissões, parques tecnológicos, capacitação profissional [7], além do tradicional programa de estágio.

A reflexão acerca do assunto mostra-se adequada e contemporânea para fins de propiciarmos um terreno fértil à formação crescente e contínua de profissionais com excelência científica, técnica, profissional e/ou acadêmica, como protagonistas no mercado.

A especialização, o nicho de negócio, e a tecnologia [8] são o trinômio para um ambiente de negócios adequado, enquanto meio para absorção de profissionais em ocupações produtivas.

A alocação de recursos na educação carece de maior racionalidade, lógica, e eficiência/aderência às vocações econômicas de cada cidade. Somos fontes de riqueza e protagonistas da nossa própria história.

 

*Foto: Free-Photos por shutterstock (Imagem ilustrativa)

 

Notas

 

[1] Como exemplo desta ideia, transcrevo a notícia da criação de uma rádio digital em uma escola municipal de Uberlândia/MG, para incentivar crianças e os adolescentes no mundo da comunicação, como nova ferramenta de interação e aprendizagem, fomentando sonhos e projetos futuros na mente dos pequenos. FIGLIAGI, Luiz Fernando. Escola de Uberlândia cria rádio online para incentivar alunos no jornalismo. Jornal Estado de Minas Gerais. Digital. Publicado em 30/09/2021. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/09/30/interna_gerais,1310259/escola-de-uberlandia-cria-radio-online-para-incentivar-alunos-no-jornalismo.shtml. Capturado em 06/11/2021.

 

[2] Governança Ambiental, Social e Corporativa é uma avaliação da consciência coletiva de uma empresa em relação aos fatores sociais e ambientais.

 

[3] POLEG, Revital. “A mobilidade social em Israel não é apenas um slogan”. Site do Instituto Brasil-Israel (IBI). Revital Poleg foi diplomata do Ministério das Relações Exteriores de Israel e Representante Geral da Agência Judaica no Brasil de maio de 2013 a agosto de 2018. Disponível em: http://institutobrasilisrael.org/colunistas/revital-poleg/geral/a-mobilidade-social-em-israel-nao-e-apenas-um-slogan. Capturado em 30/10/2021

 

[4] BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Indicadores Financeiros Educacionais. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/acesso-a-informacao/dados-abertos/indicadores-educacionais/indicadores-financeiros-educacionais. Capturado em 06/11/2021.

 

[5] Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). OECD iLibrary é a biblioteca online da OCDE para livros, artigos e estatísticas e a porta de entrada para análises e dados da OCDE. Indicator C4. What is the total public spending on education?. Disponível em: bit.ly/3bEo2fd

 

[6] Neste sentido, ao analisar estes mesmos dados, o Professor Armando Castelar Pinheiro, provoca: “Ou, mais ao ponto, por que, apesar de a escolaridade média crescer 3% a.a., a produtividade cresce 1% a.a.? PINHEIRO, Armando Castelar. Educação e crescimento econômico. Jornal Valor Econômico. Digital. Opinião. Publicado em 5/11/2021. Disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/educacao-e-crescimento-economico.ghtml. Capturado em: 06/11/2021.

 

[7] Recentemente, uma grande empresa de varejo anunciou o lançamento de um curso gratuito de programação para pessoas com 40 anos ou mais, visando inserir pessoas da faixa etária no mercado de tecnologia e suprir as demandas de mão de obra do setor. Fonte: https://letscode.com.br/desenvolve-magalu

 

[8] Um estudo da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) aponta que, desde 2019, seria necessário contratar 70 mil pessoas por ano para cobrir as demandas do setor até 2024. Fonte: https://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=site&infoid=50558&sid=46#.XMcJ1ehKhPY

 

 

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