Infografia: facilitar para persuadir!

Infografia: facilitar para persuadir!

“O sucesso das organizações depende das pessoas e da utilização inteligente da informação disponível” Peter Drucker.

 

No mundo atual, onde o acesso à informação é vasto e instantâneo, o verdadeiro diferencial está na nossa habilidade de conectar os pontos de maneira criativa, de visualizar o que ainda não existe e de trazer à tona inovações que podem impactar a produtividade do seu negócio.

 

Nesse compasso, oportuno trazer a seguinte provocação: como você está entregando os seus conteúdos? Os seus receptores assimilam de forma fácil?

 

Estamos imersos em um mundo audiovisual com excesso de signos e informações em constante interatividade, associada à escassez de tempo, para absorção de novos saberes, em face dos múltiplos compromissos inerentes a vida moderna.

 

Em face desse novo ecossistema torna-se imprescindível a fluência cognitiva ao conteúdo entregue pelos seus emissores, seja você um advogado, professor, gerente ou mesmo colaborador de uma organização.

 

A entrega de conteúdo é insumo para criação de riquezas e valor. Nossa atividade laboral não é apenas braçal; vendemos ideias/argumentos para processos decisórios, criação de riquezas e acréscimo intelectual aos nossos receptores/clientes.  

 

Quanto mais fácil é o processamento de uma informação, melhor é a percepção sobre a própria informação, para extrair melhores resultados e convencimento de seus receptores. Se percebermos algo como simples e fácil, temos mais tendência a acreditar naquilo.

 

Sobre o assunto, elucida o economista Daniel Kahneman [1]:

 

“Quando você se encontra em um estado de conforto cognitivo, provavelmente está de bom humor, gosta do que vê, acredita no que ouve, confia em suas intuições e sente que a presente situação é confortavelmente familiar. Também apresenta maior propensão a ser relativamente casual e superficial nas coisas que pensa. Quando você se sente tenso, tem maior probabilidade de se mostrar vigilante e desconfiado, investir mais esforço no que está fazendo, sentir-se menos confortável e cometer menos erros, mas também fica menos intuitivo e menos criativo do que o normal”.

 

A forma e o conteúdo de uma mensagem são indissociáveis e se confundem. O desconforto cognitivo assim como a fome, o calor e o mau humor impacta negativamente a comunicação.

 

A forma como a informação é apresentada contribui para a clareza, credibilidade e a força argumentativa da tese e, consequentemente, influencia o processo decisório.

 

Partindo dessas premissas, abordaremos a ferramenta da infografia, enquanto arte de desenhar ideias e estratégias com alta densidade informacional, assim como o design thinking e outras ferramentas de persuasão utilizadas na esfera da comunicação moderna.  

 

Infografia é um termo que combina "informação" e "grafia" e se refere à representação visual de informações, dados ou conhecimento. O objetivo da infografia é apresentar informações de maneira clara, concisa e atraente, facilitando a compreensão e a retenção por parte do público.

 

O seu escopo não é apenas o uso de elementos visuais, mas a maneira que você pensa e organiza, de forma estratégica, a sua informação em elementos textuais e visuais.

 

Com relação aos seus objetos, podem incluir uma variedade de elementos visuais (signos), como gráficos de dados, imagens metafóricas, tabelas, diagramas, ícones, pictogramas, textos minimalistas, ilustração técnica e científica, storyboard, storytelling, mapas conceituais, e etc. Eles são frequentemente usados em contextos como jornais, revistas, websites e redes sociais para comunicar dados complexos de forma simplificada e visualmente envolvente.

 

Em resumo, é uma ferramenta poderosa para transmitir informações de maneira eficiente e acessível.

 

A sua versatilidade é notória, com várias aplicações em diferentes áreas. Aqui estão algumas das principais:

 

      1. Jornalismo e Mídia:

a. Notícias: Para explicar dados e estatísticas de eventos ou tópicos complexos, como eleições, economia ou desastres naturais.

b. Artigos e Relatórios: Para tornar informações extensas mais acessíveis, descomplicadas e visualmente atraentes.

 

2. Educação

a. Material Didático: Para ajudar na visualização de conceitos e dados complexos, facilitando o aprendizado, como por exemplo, os famosos “mapas mentais”

b. Apresentações: Para tornar os conteúdos mais envolventes e compreensíveis para os alunos.

 

3. Marketing e Publicidade

a. Campanhas: Para comunicar de forma eficaz dados sobre produtos, serviços ou pesquisas de mercado.

b. Redes Sociais: Para criar conteúdo que seja visualmente atraente e com distribuição eficaz.

 

4. Empresas e Negócios.

a. Relatórios Corporativos: Para apresentar dados financeiros, métricas de desempenho e outras informações importantes para fomentar processos decisórios.

b. Treinamento: Para ilustrar processos e procedimentos complexos de maneira simplificada.

 

5. Saúde e Medicina

a. Informação ao Paciente: Para explicar condições médicas, tratamentos e procedimentos de forma que pacientes possam entender facilmente.

b. Passo a passo de um procedimento cirúrgico.

c. Campanhas de Conscientização: Para educar o público sobre temas de saúde pública e prevenção.

 

6. Política e Governança

a. Transparência: Para apresentar informações sobre políticas públicas, orçamentos, visão e valores de uma organização e estatísticas de forma acessível ao público.

b. Educação Cívica: Para explicar processos políticos, eleições e legislações.

 

7. Tecnologia e Ciência

a. Comunicação de Pesquisa: Para compartilhar descobertas e dados científicos de forma clara e acessível.

b. Guias e Tutoriais: Para ajudar na compreensão de tecnologias complexas e novos produtos.

 

8. Manuais de instruções de uso de produtos.

 

9. Guias turísticos.

 

10. Petições judiciais

a. Facilita a compreensão dos pedidos e causa de pedir. Como por exemplo, a utilização de um gráfico de pizza, para ilustrar os gastos do autor em bens de primeira necessidade, como suporte ao pedido de gratuidade da justiça deduzida na inicial.

 

Todavia, cumpre extirpar certos mitos em torno da infografia; não significa propiciar “efeitos especiais” ao conteúdo, cheios de ícones, pictogramas e cores, de forma aleatória e desconexa, frisa-se, sem prévio planejamento.

 

É necessário compreender todos os procedimentos envolvidos: começando pelo briefing, que tem o intuito de apontar alguns itens a serem pensados, como objetivo, público‑alvo, conteúdo e veiculação.

 

A etapa seguinte é o planejamento, com o estabelecimento do cronograma de atividades da equipe, para logo em seguida dar início a fase de apuração: construir um acervo de informações sobre a pauta a ser abordada. Por meio da seleção de dados, as informações mais importantes são refinadas e a credibilidade dos dados é verificada.

 

Próxima etapa: redação. O título e o texto do infográfico devem ser compostos de forma compacta, privilegiando as informações mais importantes e essenciais para a narrativa do fato.

 

Em ato contínuo, temos a etapa do esboço, ou seja, o rascunho de como o infográfico ficará. Nesse momento, deve‑se refletir se os elementos visuais escolhidos estão adequados e se a distribuição dos elementos no espaço do infográfico está agradável (ergonomia visual).

Por sua vez, na etapa da criação são definidas as ferramentas para produzir o design do infográfico, como por exemplo, a plataforma de design gráfico, como o Canva [2], dentre outros. E uma versão de apresentação do infográfico é elaborada, materializando o que foi planejado no esboço (protótipo).

 

O próximo passo é a etapa de layout: a disposição dos elementos visuais, conforme a hierarquia quanto à importância da informação, usar adequadamente os elementos visuais; escolher a tipografia e as cores para que a informação seja transmitida com assertividade; aplicar pictogramas e gráficos com especificidade ao tema, de modo a favorecer a fluência cognitiva ao seu receptor.

 

Oportuno salientar a importância da área de respiro [3], para que o infográfico não fique sufocante devido à presença de muitos elementos, o que prejudica a legibilidade das informações, ou mesmo, ocasionando as denominadas “cegueiras de faixas” [4].

 

A etapa final é a revisão na qual deve‑se ter um olhar minucioso para identificar se há algo a ser modificado para melhorar a experiência do leitor do infográfico.

 

Com relação as suas espécies, os infográficos podem ser: (i) exploratório; descreve determinado objeto, lugar ou pessoa; (ii) explanatório; explica o funcionamento de alguma coisa ou a relação entre os determinados elementos; (iii) historiográfico; contextualizar algum fato ou pessoas na história ou inseri-lo na dinâmica de determinado evento; (iv) gerencial; para monitoramento de metas, resultados e projeções visando fomentar processos decisórios com precisão e engajamento de seus colaboradores; (v) interativos; onde demanda a participação do seu destinatário.

 

Levando em consideração esses aspectos, as benesses da infografia [5] são notórias: acréscimo intelectual aos receptores e eficiência aos processos decisórios no âmbito das organizações, pela sua dinamicidade, atratividade; mais intuitiva e fácil de ser consumida, visualmente confortável e com alta densidade informacional, ajudando a engajar e informar diversos públicos, além de fomentar a criação de riquezas; correção de rotas, angariando estratégias profícuas a sua produtividade.

 

Em que pese ser redundante, o óbvio precisa ser dito. Essa é a nossa ressalva. A comunicação por meio do infográfico deve ser construída com especificidade e clareza para o seu público, demandando conhecimento prévio da temática pelo seu criador, sob pena de ser considerado um mero desenho gráfico, abstrato e sem utilidade informativa.

 

Infografia: a comunicação que inspira ação!

 

Notas:

 

[1] KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. Pg. 79.

 

[2] Canva é uma plataforma de design gráfico que permite aos usuários criar gráficos de mídia social, apresentações, infográficos, pôsteres e outros conteúdos visuais. Está disponível online e em dispositivos móveis e integra milhões de imagens, fontes, modelos e ilustrações.

 

[3] “Respiro: A área de respiro no design parte da ideia de deixar alguns espaços em branco ou sem elementos, de modo que exista uma distância adequada entre cada um deles. Isso permite que a informação salte ao olhar mais facilmente’ In. LACERDA. Larissa. “Aprenda como fazer um Infográfico incrível!’. Blog rockcontent. Disponível em: https://rockcontent.com/br/blog/como-fazer-um-infografico/ Capturado em 29/08/24.

 

[4] “Cegueira de faixa (banner blindness em inglês) é um fenômeno caracterizado pela habilidade (consciente ou inconsciente) de um indivíduo em ignorar propagandas, anúncios ou qualquer outro elemento visual inclusive fora do ambiente web. O termo foi criado por Benway e Lane em 1998 como resultado de sua pesquisa de usabilidade na web. Segundo especialistas, dentre os motivos para a cegueira de faixa, destaca-se o interesse específico em determinada informação, que leva o usuário, baseado em suas experiências anteriores, a focar, mesmo que inconscientemente, nas regiões onde crê que a informação estará. Consequentemente, todo o resto é ignorado mesmo que apresente destacadamente a informação desejada” CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cegueira_de_faixa.

 

[5] O professor Sancho, aponta os seguintes aspectos presentes em um infográfico: a) Utilidade: benefício do infográfico; b) Visualidade: elementos visuais facilitam a leitura; c) Informação: organização de dados; d) Significação: assunto de interesse do leitor; e) Compreensão: linguagem simples; f) Estética: associar texto e imagem; g) Iconicidade: elementos de fácil entendimento; h) Tipografia: título, crédito do autor e fonte das informações; i) Concordância: revisão e veracidade das informações. SANCHO, José Luis Valero. La infografía : técnicas, análisis y usos periodísticos. València: Universitat de València, 2001.

 

Referencias Bibliográficas:

 

AMBROSE, G.; HARRIS, P. Fundamentos de design criativo. Porto Alegre: Bookman, 2012.

 

AZAMBUJA, C. S.; MENDES, G. S.; SILVA, S. C. da. Estética e semiótica aplicadas ao design. Curitiba: Intersaberes, 2021.

 

D’AGOSTINI, D. Design de sinalização. São Paulo: Blucher, 2018.

 

DONDIS, D. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 

FARINA, M. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Blucher, 2006.

 

FERREIRA, L. T. Infografia. Curitiba: Intersaberes, 2021.

 

FONSECA, J. da. Tipografia & design gráfico. Porto Alegre: Bookman, 2008.

 

GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo: Escrituras, 2008.

 

HOFF, T; GABRIELLI, L. Redação publicitária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

 

KANNO, M. Infografia: guia básico de didáticos. São Paulo: Boreal Edições, 2018.

 

SANCHO, J. L. V. La infografía: técnicas, análisis y usos periodísticos. València: Universitat de València, 2001.

 

SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2004.

 

SANTAELLA, L. Percepção: uma teoria semiótica. São Paulo: Experimento, 1998.

 

**Foto: Free-Photos por Flickr (Imagem ilustrativa).

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