A contabilidade da inovação

A contabilidade da inovação

 “Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu”

 (Fernando Pessoa, “Mar Português” (também grafado Mar Portuguez)

 

As startups podem ser compreendidas como empresas protótipos, em seu estagio inicial de desenvolvimento e em processo de constituição, carente de processos internos e organização, com perfil inovador, altamente dependente do capital: humano (intelectual) e de terceiros (investimentos), bem como, da tecnologia, emergida em condições de risco e incertezas (mercado pouco explorado) tendo como finalidade primordial a criação e o desenvolvimento de produtos ou serviços inéditos no mercado.

Portanto, esta nova espécie de empresa é anterior à própria ideia do negócio, constituindo-se uma fase probatória de produtos e serviços, frisam-se inovadores, com o objetivo de serem lançados no mercado.

Já as empresas comuns, não estão preparadas para as incertezas e riscos de mercado, em face do seu alto custo (funcionários, impostos e etc.) optando por atuarem em um mercado sólido e já conhecido, em um cenário de livre concorrência com outras empresas do mesmo ramo.

Sob outra perspectiva, a graduação é um curso de nível superior, que só pode ser realizada após a conclusão do ensino médio. O enfoque da formação é tanto teórico quanto prático, e, embora o objetivo seja a capacitação profissional, ela pretende também formar um profissional reflexivo e crítico (ambiente da pesquisa).

Por sua vez, o ensino técnico é um intermediário entre o médio e o superior, cuja característica predominante é a formação profissional, com destaque para áreas tecnólogas, por meio do emprego de disciplinas práticas, na matriz curricular. 

Pois bem. Feitas estas comparações entre as startups e empresas tradicionais e dos ensinos superior e técnico, podemos extrair os benefícios da inovação e da tecnologia, bem como, a necessidade de promovê-las como meios para suprirem as lacunas de demanda na economia de mercado, ora voláteis, em constante evolução.

O ensino superior não pode ser apenas um “enlatado”, estático, de disciplinas, desconexas com a realidade atual do mercado de trabalho, sob a justificativa de sua propalada tradição.

Deve, outrossim, ser diversificado, com um amplo leque de áreas de conhecimento,  diversificando a economia local, tornando-a mais sólida e próspera.

Não há razões para estigmas do passado. Os dois tipos de ensino devem ser complementares, desafiando os modelos já existentes, o status quo, de modo a promover uma mudança no mindset, quanto à percepção da atividade profissional, ora carente de agilidade, menor burocracia e maior especialização em sua mão de obra.

Pensando desta forma, hodiernamente grandes empresas instituíram Universidades Corporativas (UC) no âmbito de suas organizações, como ferramenta estratégica projetada para promover a capacidade técnica e funcional de seus colaboradores, com conteúdos devidamente customizados, de acordo com cada cargo profissional.  

No atual cenário econômico, extremamente competitivo, as UC são uma reposta da iniciativa privada às falhas de mercado, como a defasagem de mão de obra técnica e especializada, propiciando vantagens competitivas a seus funcionários, e, também aos objetivos empresariais, em decorrência da maior produtividade e excelência de seu capital humano.

Até porque, não se vende hoje apenas um produto ou serviço, mas sim, a sua experiência, o seu valor agregado, perante os consumidores, cada vez mais exigentes e ávidos de novidades.  Daí, a importância dos testes, como o MVP [1] no universo das empresas inovadoras.

Na outra ponta, as vantagens competitivas representadas pelos custos baixos e atendimento personalizado, com foco na experiência do cliente, em ambientes favoráveis a inovação, inerentes às startups devem ser modelos para as empresas tradicionais.

Em momentos de crise, a rigidez das estruturas empresariais, petrificadas no tempo, deve dar lugar a processos disruptivos, proporcionados pela tecnologia e por uma “contabilidade da inovação” [2].

Muitas vezes, a capacidade de planejar a oferta de um produto ou serviço no mercado, frisa-se, personalizado, não advém de tratados acadêmicos, e sim, por meio de validação perante o público consumidor, quanto a sua receptividade e aceitação, justificando a importância do aprendizado validado.

A estratégia competitiva de qualidade é oferecer o produto ou serviço que o consumidor deseja adquirir pelo preço que esteja disposto a pagar.

Uma nova era se apresenta: a de uma cultura aberta, experimental e horizontal, tendo como foco as diversas demandas do mercado e o intuito de melhorar a vida das pessoas, de forma conexa a realidade, e não em um passado ou tradição, perdido no tempo. 

Notas:

[1] O Produto Mínimo Viável – ou Minimum Viable Product (MVP) – é a versão simplificada de um produto final de uma startup. A partir dela, o empreendedor vai oferecer o mínimo de funcionalidades com o objetivo de testar o encaixe do produto no mercado, por meio de vários testes e feedbacks de potenciais consumidores.

[2] Sobre este conceito, disserta o empreendedor do Vale do Silício, Eric Ries: “É preciso criar uma “contabilidade da inovação”. Suponha que criamos a primeira versão de um produto, que o mostramos aos consumidores e que obtivemos uma taxa de 10% de conversão. O plano de negócios, no entanto, indica que apenas uma taxa de conversão de 25% tornará o produto viável. Ainda estamos longe disso. Então eu volto à prancheta, faço algumas melhorias e consigo uma taxa de 12%. Depois 14%. E depois 20%. O que podemos dizer com segurança? Que eu aprendi alguma coisa sobre aquele produto. Que encontrei um caminho para fazer com que os consumidores o apreciem mais. Ainda não alcancei a meta, mas posso mostrar meu progresso. Chamo isso de aprendizado validado”. In. Revista Veja. “As lições de Eric Ries, o guru da ‘startup enxuta’. Disponível em: https://veja.abril.com.br/tecnologia/as-licoes-de-eric-ries-o-guru-da-startup-enxuta/. Capturado em 17/02/21.

*Foto:  Free-Photos por Pixabay (Imagem ilustrativa).

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