Se é difícil de ler, é difícil de fazer!

Se é difícil de ler, é difícil de fazer!

A forma e o conteúdo são indissociáveis: a dificuldade da leitura repercutirá na sua própria pretensão e poderá predispor negativamente o seu receptor.

 

“O meio é a mensagem” (Marshall McLuhan)

 

O meio é a mensagem[1], porque também é conteúdo! Eis a premissa deste artigo. 

 

Quando você redige e-mails, relatórios e petições a sua mensagem é transmitida de forma eficiente? Você consegue influenciar o seu interlocutor? Convencê-lo? 

 

O meio não é um simples canal de passagem do conteúdo ou mero veículo de transmissão da mensagem, mas um fator determinante da comunicação. 

 

Noutros termos, o meio transcende a cultura letrada. A simplificação decorrente da escassez de tempo que a vida moderna exige, não significa precarizar o conteúdo.

 

Simplificar significar conectar o interlocutor com a sua mensagem, envolvê-lo, para melhor percepção sobre a própria informação, capaz de lhe oferecer fluência cognitiva em contraposição a textos prolixos e sem especificidade.

 

Não transfira a responsabilidade da compreensão para o receptor. Aprenda a ajustar sua mensagem de acordo com o público-alvo.

 

As pessoas preferem conteúdo, serviços e produtos que são fáceis de usar e pensar. O termo técnico para isso é "fluência cognitiva".

 

Analise o Twitter, por exemplo. Você digita o texto e clica no botão "enviar". Pronto! Sua mensagem foi publicada. Agora, repare o Google: é uma caixa de busca no centro de uma página em branco. Você digita a dúvida e clica em "pesquisar". Feito! Em poucos segundos você tem especificidade na informação pretendida.

 

A velocidade, precisão e qualidade da informação são vantagens competitivas para o sucesso de qualquer negócio e construção de um bom relacionamento com os clientes e demais interlocutores como juízes, cidadãos e tomadores de decisão.

 

Neste contexto, explica o psicológo Daniel Kahneman[2]

 

“Quando você se encontra em um estado de conforto cognitivo, provavelmente está de bom humor, gosta do que vê, acredita no que ouve, confia em suas intuições e sente que a presente situação é confortavelmente familiar. Também apresenta maior propensão a ser relativamente casual e superficial nas coisas que pensa. Quando você se sente tenso, tem maior probabilidade de se mostrar vigilante e desconfiado, investir mais esforço no que está fazendo, sentir-se menos confortável e cometer menos erros, mas também fica menos intuitivo e menos criativo do que o normal”.

 

Voltando ao tema simplificação, cumpre fazer o seguinte questionamento: o que é linguagem simples?

 

A linguagem simples é a comunicação que seu público pode entender na primeira vez que lê ou ouve.

 

O Plain Writing Act de 2010[3] define a linguagem simples como: a redação clara, concisa, bem organizada e que segue outras práticas recomendadas e apropriadas ao assunto ou campo e ao público.

 

A comunicação estará associada à linguagem simples se o seu público puder:

 

- Encontrar o que eles precisam;

- Entender o que eles encontram na primeira vez que leem ou ouvem;

- Absorver o seu conteúdo para atender às suas necessidades.

 

Após decodificar a mensagem, o receptor dá o feedback ao emissor. Se a comunicação foi eficiente, esse retorno será o esperado.

 

De modo inverso, caso haja algum ruído (qualquer problema no processo de comunicação), a resposta do receptor será diferente da desejada pelo emissor. Como exemplos de ruídos, podemos citar o excesso de juridiquês, linguagem rebuscada e prolixa, sem se ater ao cerne da informação/ideia central transmitida.

 

A habilidade comunicativa de ter o domínio do assunto, de forma concisa e assertiva, ou seja, ter repertório e persusão são fatores determinantes no processo de comunicação, capazes de exercer empatia para a construção da persona a qual se destina a informação e assim, obter melhores resultados.

 

O texto, conforme nos ensina Firoin e Platão[4], “possui coerência de sentido, o que significa que ele não é um amontoado de frase”.

 

Neste contexto, a mensagem deve ser translúcida, como uma unidade de sentido e expressar de forma clara e concisa uma ideia, no contexto demandado.

 

Noutros termos, o texto não é uma quebra-cabeça de palavras, de forma isolada do seu contexto e da situação de comunicação em que se insere. Assim sendo, o texto deve ser considerado “naquilo que é dito; no como é dito; no porquê do dito; na aparência; na imanência; como signo; como História”[5].

 

O que se busca é a redação objetiva, enquanto forma de dialogar, com interlocutores remotos, criar conexões, negócios e boas tomadas de decisões quanto aos seus julgadores, além de exercer cidadania ao propiciar o conhecimento e acesso a direitos, como o exemplo da Plain Writing Act.

 

Os recursos visuais inseridos nas apresentações e petições judiciais, com a introdução de gráficos, tabelas e linhas do tempo para ilustrar os fatos principais, são capazes de exponenciar a fluência cognitiva do público e maiores chances de êxito quanto ao deferimento dos pedidos.

 

Neste conjuntura, elementos como a ergonomia visual de texto, ou seja a forma como está disposta, no papel ou na tela, torna a leitura mais agradável, colaborando e facilitando, portanto, a análise do seu conteúdo – “If It's Hard to Read, It's Hard to Do”[6].

 

O conforto cognitivo deve ser a meta de todo escritor quanto ao seu público-alvo, de modo a repercutir de modo favorável a comunicação e o processo decisório.

 

Para atingir este objetivo, visando acelerar o processo decisório, a densidade informacional é um elemento imprescindível; a informação deve ser concisa, persuasiva e com especificidade; textos longos podem diluir a informação e prejudicar a fluência cognitiva do seu destinatário.

 

Nos primórdios da revolução industrial, a linha de produção era exaltada por ter exponenciado a produtividade, a  ponto de Henry Ford[7] dizer que “você pode ter um carro da cor que quiser, desde que seja preto”, porém, com prejuízos nas formas, detalhes, cor, elegância e subjetividade.

 

Os tempos são outros. Há escassez de tempo, negócios instantâneos e demandas customizadas em série, demandando, em contrapartida, uma comunicação com especificidade, aderente a natureza do objeto e do universo do seu interlocutor, de forma limpa, enxuta e sem ruidos.

 

Assim sendo, o design da informação proporciona ao leitor um layout, de forma que seja possível atrair o seu olhar para o lugar que se deseja no momento certo (hierarquia visual), estimulando-os a agir conforme o esperado. É uma técnica, portanto, que transcende o uso de elementos visuais, alterando o modo como você pensa e organiza, de forma estratégica, a sua informação, em elementos textuais e visuais.

 

Levando-se em consideração esses aspectos, podemos afirmar que a forma e o conteúdo de uma mensagem são indissociáveis e se confundem. Afinal de contas, o texto também é uma forma de diálogo, e, portanto, deve ser funcional, ou seja, facilmente decodificado pelo seu receptor, transformando informações em negócios, cidadania, para melhores tomadas de decisão, experiência e credibilidade para sua mensagem.

 

A comunicação é a arte de ser entendido; e citando Paul Watzlawick[8] é ‘o coração da humanidade é o que nos torna únicos e nos permite conectar com o mundo”.

 

*Foto  Free-Photos por Pixabay (Imagem ilustrativa).

 

Notas e Referências Bibliográficas:

 

[1] MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem: Understanding Media. Editora: Cultrix; 1ª edição (1 dezembro 1969)

 

[2] KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. P.79.

 

[3] ESTADOS UNIDOS. Lei Federal n. 111-274. Plain Writing Act de 2010. Um ato para melhorar o acesso do cidadão às informações e serviços do Governo, estabelecendo que os documentos do Governo emitidos ao público devem ser escritos de forma clara e para outros fins. Disponível em: https://www.govinfo.gov/content/pkg/PLAW-111publ274/html/PLAW-111publ274.htm.

 

[4] FIORIN, J. L.; PLATÃO, F. Para entender o texto: leitura e redação. 15. ed. São Paulo: Ática, 1999a. P.12.

 

[5] DISCINI, N. Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2005. P. 13.

 

[6] SCHWARS, Norbet et al.  If It’s Hard to Read, It’s Hard to Do Processing Fluency Affects Effort Prediction and Motivation. Paper. Psychological Science [2008]: 986–988. Disponível em: https://dornsife.usc.edu/assets/sites/780/docs/08_ps_song___schwarz_effort.pdf.

 

[7] CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford#cite_note-22.

 

[8] WATZLAWICK, Paul; BEAVIN, Janet H. e JACKSON, Don D. (1967). Pragma- tics of human communication. Nova York, Norton (trad. fr.: Une logique de la communication. Paris, Seuil, 1972)

 

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