Consumo consciente aflora na Pandemia e aquece moda sustentável em Batatais

Consumo consciente aflora na Pandemia e aquece moda sustentável em Batatais

Apaixonada por arte e moda, Valéria Gomes se dedica a uma linha exclusiva de roupas que aliam sustentabilidade, criatividade e conforto

Por Bruna Martinelli 

Não precisa entender muito sobre moda para entender que ela vive de tendências, que vão e voltam com os anos. Como em diversos setores, a moda tem se adaptado à nova geração de consumidores mais conscientes com a importância do cuidado com o meio ambiente e com os animais. O uso de roupas sustentáveis se tornou uma tendência que indica ir na contramão das outras, se tornando permanente.

Para a empresária batataense Valéria Gomes, as mudanças, não só da moda, como também do mundo, devido à Pandemia da covid 19 trouxeram a ela a oportunidade de inovar e trabalhar com este conceito. Formada em Fisioterapia, atuou em áreas como paisagismo, decoração e até mesmo pesquisa clínica em medicamentos. Trabalhando com cerâmica plástica em um espaço próprio, decidiu convidar uma amiga que trabalhava com moda consciente – as quais ela consumia – para uma parceria.

Um tempo depois, a parceria terminou. Valéria, que já tinha feito um curso de costura e de patchwork por hobby, se viu fazendo roupas pela primeira vez.  “Eu tinha 15 anos e fui morar com a minha avó paterna, que me incentivou a fazer esse curso de corte e costura. Cheguei a fazer roupas para mim e para ela, e isso ficou muito gravado na minha mente. Comecei a relembrar e pesquisar muitas coisas. Fiz cursos como tendência em moda e moda sustentável. E aí rolou, voltei para essa área da costura e moda não tem nem um ano”, comenta.

Utilizando o nome que usa para sua produção de acessórios em cerâmica plástica, Valéria deu vida ao ateliê DivinaDona, e se inspirou nas cores das peças para dar vida à sua mais nova produção. Suas roupas contêm uma mescla de tecidos como algodão, linho, seda[DD1]  e musseline, algo que quando pedia para si como consumidora, sempre alegaram ser impossível.

O início do trabalho a fez conhecer um movimento que surgiu no final dos anos 1990, o upcycling, que trabalha com a reconstrução de peças. “Eu pego a roupa de uma pessoa. Ela quer usar aquele tecido por algum motivo. Estudo com ela os meus modelos da minha coleção e adaptamos esse tecido para o meu tipo de roupa que é slow fashion: uma roupa mais ampla, medidas mais soltas, uma moda mais fluída. Muitas vezes aquele tecido vem junto com alguma história. Foi presente de um ente querido que já faleceu, marcou um momento importante de sua vida entre outros. Para mim, quanto mais significado eu puder agregar nas minhas criações, mais sentido eu vejo no meu trabalho. Acaba se tornando uma moda afetiva também”, explica.

Seu interesse pela máxima sustentabilidade e pela cadeia limpa na moda surgiu como consumidora, e foi aflorado pelo surgimento da pandemia que a fez refletir a utilidade das roupas em nosso dia a dia. “A gente vai fazer esse produto, utilizá-lo e depois ele vai virar lixo? Não, ele pode ter uma releitura. Por exemplo, uma roupa no futuro pode virar uma almofada, um tapete. Um jeans e seus retalhos podem virar uma calça transada, uma roupa de passarela. Como eu gostava de estampa digital - tenho uma influência de moda carioca - gosto muito de estampa floral, comecei a comprar esses tecidos com estampas digitais, só que elas são muito caras para fazer só com esse trabalho, e aí passei a mesclar com outros tecidos e vira quase um patchwork. Assim consigo fazer uma mescla e tornar o preço acessível. E aí com os retalhos das roupas adultas, fazemos roupas infantis”, conta.

 

Prosperidade na propagação do consumo sustentável

 

O investimento em plena pandemia se tornou conhecido até mesmo fora de Batatais, atendendo pedidos no estado de Minas Gerais e uma remessa para o Rio de Janeiro, local onde Valéria pretende entrar no mercado. O alcance das vendas online se tornou atrativo junto com a moda slow fashion, na qual uma peça de roupa se torna tamanho único, vestindo mais de um manequim. O cuidado e atenção na beleza e qualidade das peças também é um diferencial.

“Depois dessa pandemia muita coisa vai mudar. Muitas pessoas que começaram a trabalhar em home office tendem a continuar, mesmo que não integralmente, mas boa parte do tempo. Elas têm de estar bem vestidas dentro de casa para uma videoconferência e é legal ter conforto com isso, porque ela tem essa dupla aptidão. A gente procura fazer com ajustes de alças, um comprimento que sirva em basicamente qualquer pessoa. Colocamos punho na calça, tudo pensado para que aquela roupa sirva para a pessoa no maior tempo possível, e dando muito conforto a ela durante sua utilização”, explica.

Com a ideia de crescer, Valéria conta com a ajuda de mais duas pessoas – uma no ateliê de roupas e outra na loja de bijuterias – para expandir seus negócios procurando lojas parceiras para suas peças. Com o fim da pandemia, irá estabelecer projetos sociais ensinando a jovens aprendizes cerâmica plástica e um projeto assistencial com mulheres artesãs de Batatais, abrindo espaço para suas produções.

O ateliê também já realizou brechó e live com doações arrecadadas e transformadas em kits para crianças do grupo Mulheres do Bem, contribuindo com a doação de mais de 1000 cestas de crianças com chocolate, giz de cera – doados pelo ateliê – e caderno de desenhar.

Valéria acredita que a moda sustentável ganhará cada vez mais visibilidade em grandes e pequenas marcas, e que a valorização do consumo consciente é uma preocupação crescente na nova geração.

“A moda é muito agressiva no processo fabril. Você vê muita exploração, algo que tende a mudar muito. Agora no verão Europeu a gente não assiste mais desfiles como antes. O da Channel foi inteirinho fechado em um estúdio com projeções imitando como se a modelo estivesse em uma praia e entrou patchwork na coleção. E isso você vê se refletir no Brasil. A Farm lançou uma coleção de vestidos de patchwork, que provavelmente eles também já estão fazendo uma releitura de suas estampas. A Timberland em coleções passadas lançou produtos feitos com tecidos derivados de garrafas pets recicladas de um rio do Haiti. Olha que loucura essa ligação. O consumidor vai querer saber no futuro de onde vem a roupa, se ela agrediu meio ambiente e animais. Quando você começa a ser mais consciente do seu consumo, você começa a participar de uma economia mais global, mais limpa. É um mundo melhor para gente. Hoje eu já sou avó e é um mundo que eu quero melhor para o meu neto, algo mais consciente”, conclui.

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