Das tiaras de retalhos de couro aos 25 anos de Bazaar

Das tiaras de retalhos de couro aos 25 anos de Bazaar

Nascida e criada em Batatais, empresária começou jovem a produzir e vender acessórios que a levaram para um negócio bem-sucedido na cidade

Por: Bruna Martinelli

Essa história começa e termina embalada por uma única palavra: amor. Foi com ela que Elisa Cardoso Montes, de 47 anos, se inspirou desde o começo da vida empreendedora. Aos 17 anos, já era apaixonada pelo atual marido Marcello Freiria Montes, e cursando direito em Franca, vendia tricô para ganhar dinheiro para arcar com as viagens de casal para o nordeste.

Presentada pela mãe com uma sacola de retalhos de couro usados para fazer bolsas, Elisa passou a reformar tiaras e presilhas para vender na universidade. Bancando as viagens, separava parte dos lucros para comprar diversos produtos de enxoval nordestinos e revender na pequena cidade do interior de São Paulo, dentro da casa que morava com os pais à época.

Foi com esse dinheiro que, aos 20 anos, em 1995, e recém-formada na faculdade abriu sua primeira loja: um espaço de 27 m², localizada no extinto Center Plata. Ali, passou a vender enxovais trazidos de São Paulo por um casal de amigos: Ana Cândida Tofeti e Eduardo Oliveira. O princípio de tudo, além da beleza, era vender conforto e qualidade não só nos produtos. 

“O que eu via de coisa boa no mundo, eu queria trazer para Batatais. Sempre achei que precisava ganhar o cliente pelo bom atendimento, qualidade e preço justo. Com isso me preocupei em proporcionar um ambiente com um cheiro agradável, ter sempre um café ou suco para que ele pudesse tomar enquanto olhava os produtos. Fui precursora de embalagens personalizadas, sempre investi num produto de qualidade e na apresentação adequada”, comenta.  

Dentro desta loja, durante dois anos, Elisa expandiu suas opções de produtos e acoplou mais dois espaços no Center Plata, um de lingerie e outro de roupas para bebês. O espaço ficou pequeno e com isso se mudou para uma casa com ar romântico e durante dois anos e meio permaneceu ali antes de dar o grande passo: um espaço maior, com estacionamento próprio, projeto moderno, com pé direito alto e muito bom gosto em cada detalhe.

Profissionalismo caminhando com a maternidade

A onda de sucesso, conquistas e desafios se estendeu na vida pessoal de Elisa que, após três anos no novo espaço, expandindo ainda mais o “leque” de produtos, se casou com o primeiro e único amor, e nos dois anos seguintes descobriu a gravidez de gêmeos. O êxtase da maternidade se misturou com a preocupação de como gerenciar a vida de mãe e de empreendedora com uma loja considerada muito nova para se afastar. Nascidos prematuros – de oito meses-, Elisa precisou se dedicar ainda mais aos filhos e à família e encontrou todo o suporte necessário em sua equipe.

Com a mãe apoiando não só no quesito maternidade, mas também profissional, sendo gerente geral e responsável pelas compras, Elisa pode ver, na prática, o investimento que sempre fez questão de realizar no ambiente de trabalho, dando conforto e adquirindo hábitos saudáveis com seus funcionários.

“Eu sempre quis dar cesta básica, plano de saúde, e eu tinha só cinco funcionários. Tenho essa visão de que temos que caminhar juntos, ser uma equipe. Com o tempo eu percebi que precisava disso para dar conta da minha vida, da minha família, eu precisava dar autonomia para minha empresa”, afirma.

Passados os 40 dias críticos dos gêmeos, a empresária voltou a cuidar da “filha mais velha”, como carinhosamente gosta de chamar a Bazaar, e alternava sua rotina entre os cuidados com as crianças e cuidados com a loja. Dois anos depois, engravidou novamente de uma menina.

“Eu sinto que empresa é como filho, cada fase implica em um tipo de dedicação diferente e conforme o tempo passa, os desafios são outros. Eu aprendia sobre a empresa com a minha família e com minha família sobre a empresa. Cada dia fiquei mais destemida, corajosa e feliz. Entendi o que é se dedicar até o sonho virar realidade”, comenta.

Solidariedade e negócios

Atrelado ao crescimento da loja o espírito de cidadania e solidariedade sempre esteve em ideias criativas promovidas por Elisa. Entre elas, a campanha Batatais by Bazaar, que é um grande sucesso. Desde 2012, inspirada nos produtos turísticos de Caldas Novas e em uma viagem realizada a Machu Picchu, a empresária vende camisetas desenhadas por José Antônio Simas e Omar Campos com pontos famosos de Batatais como o Santuário (Matriz), Câmara e Bosque Municipal. Parte do lucro vai para a creche Menino Jesus, fundada pelos seus bisavós.

“Cada desenho vem acompanhado da sua história, contada por uma historiadora, com texto traduzido por uma professora de inglês. Fiz esse projeto para poder gerar emprego e renda aqui também. Procuro inovar sempre”, conta.

Além disso, Elisa e a loja tiveram grande participação na obra localizada ao lado do Santuário, em homenagem ao pintor Cândido Portinari. Procurada pelos museólogos Florence Maria White de Vera e Manuel Julio Vera Del Carpio, que viram suas camisetas em uma visita à cidade para restaurar as obras do pintor, Elisa conheceu o projeto de arte cinética em formato de cubo, com o rosto de Portinari dentro.

Preparada no material aço inox brilhante, pintado em tons de branco e azuis, devido ao favoritismo do artista pelo azul em suas obras, é composto também por ferro e passado por uma pintura reletroestática, em uma cabine com altas temperaturas, fundindo a cor no ferro. Além destes detalhes, o mais curioso é a sensação de estar sendo observado pelo olhar da obra, que também passa a impressão de movimentar-se.

“Batatais tem o maior acervo de obras sacras do pintor, e não tinha uma homenagem a ele. Minha vó tinha obras desde uma gravura de revista de Portinari até um cartão feito pelo próprio, que era muito amigo do pai dela. Aprendi a admirá-lo desde criança e senti que precisava dar conta desse projeto, em homenagem à memória da minha avó também”, explica.

Com isso, cotou preços em metalúrgicas da cidade, conseguiu doações e vendeu cotas do projeto para a família, amigos e empresários da região interessados. Com apoio da Prefeitura de Batatais, a obra foi instalada e hoje é um dos grandes pontos turísticos, sempre escolhido para fotos.

Na inauguração da homenagem, o filho de Portinari já havia batizado a obra de Portinari e Seus Azuis, acompanhando de perto a criação. Desta oportunidade, surgiu uma nova camiseta.

Novas conquistas, pandemia e planos futuros

Em 2019, após realizar uma consultoria de 2010 a 2014, decidiu ser franqueada light da Hering, com uma loja localizada também no centro da cidade, o mais recente passo foi a realização de um sonho. A empresária também trabalha dentro da Bazaar com marcas como Stroke, Osklen, Cantão, Shoulder, Dzarm e outras.

Junto com as conquistas, vêm os desafios. Assim como para todos, o ano de 2020 e a chegada do novo coronavírus no país fizeram com que Elisa precisasse reinventar seu negócio. Com a venda online, realização de lives e promoções, ela pode manter a clientela ativa e não despedir nenhum dos seus 12 funcionários.

“Nesse meio tempo pintei toda a loja, fiz uma coleção infantil nova e não parei, mesmo com a loja física fechada. Não podemos ficar inertes. Assumi minha responsabilidade com muito medo, mas com muita força. Fui com todos os cuidados, venci o medo e enfrentei os desafios”, comenta.

Para os planos futuros, deseja realizar uma consultoria e abrir um e-commerce. Elisa sente que o que mais precisamos aprender agora é trabalhar o amor e a dedicação ao próximo. Recém-recuperada de um câncer de mama, deixa como principal lição a oportunidade de mudar o seu olhar sobre as coisas diante da vida.

“Antes eu reclamava quando via a loja bagunçada, achava que não ensinava nada direito. Hoje eu vejo as roupas em cima do balcão, as coisas fora de lugar e agradeço, porque isso significa que teve muito movimento. Eu nunca me senti tão amada – durante o tratamento de câncer-. Ao invés de questionar ‘poxa Deus, por que aconteceu isso comigo?` Eu pensei na oportunidade que ele me deu de me sentir abençoado por Ele e ser uma pessoa melhor com esse aprendizado”, conclui.

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