Empresa de São Carlos motiva  funcionários a ler e escrever em meio à pandemia

Empresa de São Carlos motiva funcionários a ler e escrever em meio à pandemia

Com roda de leitura, oficina de escrita criativa e sarau, grupo se reúne online para debater livros e aprimorar a redação de textos

Por Bruna Martinelli 

Tudo começou com o sonho de uma grande leitora e a vontade de quebrar os paradigmas de que leitura é uma atividade solitária e destinada a intelectuais. A empresária Adriana Ferreira, de 48 anos, se formou em jornalismo pelo amor às palavras, mas seguiu o ramo de negócios para manter a empresa familiar, uma concessionária de veículos de São Carlos, fundada pelo pai.

Os livros estão sempre presentes em sua rotina, levando uma obra a mão todos os dias. O hábito despertou a curiosidade de funcionários que perguntavam sobre, e até mesmo pegavam emprestado. Apaixonada por histórias, sempre quis compartilhar um pouco da magia, mas nunca pensou que seria no próprio ambiente de trabalho.

Sugerido por uma funcionária, criou uma roda de conversa literária, escolhendo obras que ela já havia lido e se inspirando em clubes de leitura que integra, mas com um público bem diferente. Normalmente composto por acadêmicos e pessoas graduadas, a roda que acontece na própria empresa tem a participação de mecânicos, estagiários e pessoas de diferentes profissões. O time é composto inclusive por colaboradores da unidade que fica na cidade de Porto Ferreira.

“Tem gente que nunca tinha lido um livro, só resumo para vestibular e faculdade, e gente que nunca fez faculdade ou ensino médio. Eles estão lendo e tendo boas discussões sobre livros que eu leio e que os outros vão indicando. Desse grupo já surgiu um outro, pois os funcionários tinham interesse em incluir parentes, amigos, então acabei montando um outro grupo aberto para não ter muitas pessoas e dar espaço para todos falarem. Hoje temos dois grupos: um de pessoas da empresa e outro de pessoas de fora”, conta Adriana.

Assim surgiu a Agama, curadoria de cultura e bem-estar, ideia que já existia no coração da empresária, mas tomou forma em outubro de 2019. Começando com a obra do angolano Agualusa -O Vendedor de Passados -, o grupo de 18 pessoas totaliza sete livros debatidos até o ano de 2020, com encontros online devido à pandemia.

Financiados pela própria empresa, os livros são entregues aos participantes que também sugerem obras e, quando são escolhidas, iniciam o debate na roda. Como resultado dessa atividade mensal, Adriana percebeu mudanças positivas tanto para o ambiente de trabalho, quanto para o lado pessoal dos funcionários.

“O primeiro relato é ‘eu não sabia que ler é tão bom’. Acontece o autoconhecimento através de uma história, porque quando você lê um livro você se enxerga nessa história, você elabora dentro dela partes de você. Um livro muda depois que lemos juntos. As rodas ampliam o olhar leitor delas. Eu acho que aumentou concentração e disciplina de todos, esse olhar interessado no outro, e uma apropriação de si. Eles descobriram coisas que eles mesmos não sabiam. Também venceram a timidez, sinto as pessoas mais confiantes. Eu percebo que nos dias que se aproximam da atividade e no dia seguinte, eles se encontram mais felizes”, comenta.

 

Ampliando atividades

O distanciamento social não impediu o interesse dos integrantes em participar de mais atividades e, com isso, desenvolveram uma oficina de escrita criativa, promovida pela funcionária que sugeriu o clube do livro, Andressa Leonardo, formada em linguística. A Partilha Criativa reúne dez pessoas para aprimorar a escrita através de textos e poesias. Em seis encontros, os participantes começam desenvolvendo pequenas palavras com sentimentos e textos de blackout, até formarem trechos.

Além da oficina, os funcionários participaram de um sarau literário online, onde um ator recitou poesias e prosas escolhidas pelos espectadores. Para encerrar o ano, a Agama forneceu o curso online literário: Ampliando o Olhar Leitor, ministrado pelas baianas Lina Passos e Bárbara Franceli. Nele, os 20 participantes aprenderam a mergulhar na história com técnicas de observação, ampliando a atenção e concentração no texto.

O objetivo agora é conseguir, após o fim da pandemia, um espaço físico para reunir pessoas além da empresa, com atividades que vão desde a já expostas até movimentos infantis, atividades corporais como yoga e meditação, sarais musicais e muitas outras que dizem respeito à arte, cultura e bem-estar. Adriana tem como grande sonho ampliar a ideia e poder levá-la para outras empresas, mostrando que é possível criar um ambiente literário enriquecedor independentemente do grau de escolaridade.

“Meu sonho era sempre levar para mais alguém tudo que a literatura fez de bom para mim. A gente percebe pelos relatos que isso amplia a vida delas. É um novo espaço dentro da gente, um espaço de sonho e compreensão que você não volta mais para trás. Em vez de fazer uma rodada de cerveja para os funcionários em um fim de tarde, compra um livro e faz uma roda de leitura que você terá muito mais resultado. Isso reverbera na família, e beber será algo só ali e acabou. O investimento é muito baixo, é só comprar um livro e abrir um espaço para as pessoas se reunirem em roda. Não interessa que no começo serão 5, amanhã serão 7, e assim vai”, afirma.

 

Conheça mais sobre a Agama em www.agamaflow.com.

 

Compartilhar: