Diversão popular e atemporal

Diversão popular e atemporal

A jornalista Mariana Raymundini, formada pela PUC do Rio de Janeiro, acompanhou todas as noites do Carnaval de Batatais. Inspirada pelos batuques e fantasias, escreveu o texto abaixo que retrata, com muita sensibilidade, o significado desta grande Festa Popular. Vale a pena conferir!

 

 

Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar carnaval. Brinque meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que 4ª feira a luta recomeça. Mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida.

                                                                                                               Dom Helder Câmara

 

O carnaval de Batatais é conhecido como o melhor da região e, esse an0o, novamente fez jus a este título: foi uma bela festa, recheada de inspirações. A escola de samba, Unidos do Morro, conquistou seu bicampeonato e provou que a receita do sucesso é feita de organização, raça e, sobretudo, comunidade unida. A bateria nota 10 com direito a famosa paradinha, tradição nos grandiosos desfiles do Rio de Janeiro e São Paulo, arrepiou e emocionou todo o público. Todas as outras escolas também brilharam e deram trabalho para os jurados. Cada uma com suas características, mas todas fizeram um belo espetáculo e são vitoriosas pela coragem e o trabalho de colocar uma agremiação na avenida.

Apesar de todo ano ter seus dias definidos, o carnaval, mostra-se cada vez mais atemporal. A alegria que esta festa proporciona não é definida por faixa etária, etnia ou classe social. É festa popular, renovadora de sonhos e esperanças por dias mais leves e cheios de graça. A maior prova disso foi encontrar Dona Nega, 87 anos, assistindo o desfile de todas as escolas de samba até de madrugada. Ela distribuía sorrisos e dizia que o seu coração pulsava na mesma frequência que a da bateria. Naquele momento, a sua sábia maturidade inspirava e dava vida à letra da música, Um sonho de Carnaval de Chico Buarque: “que gente triste possa entrar na dança, que gente grande saiba ser criança.”

Na mesma folia, Bento, 11 meses, também roubou a cena, mostrando pique de gente grande ao assistir e admirar concentrado a leveza de cada movimento de pluma. O brilho encantador da purpurina e lantejoulas fundia- se com o brilho explorador dos seus olhinhos em cada descoberta de fantasias e cores. Seus pais e avós ao observá-lo sentiam na pele a grandeza da vida. Começaram a ter certeza que todo momento vivido, até então, tinha valido muito a pena e a esperança de dias leves e divertidos já eram uma certeza. Carnaval é assim, gentil assim, alegre assim, é popular, é do povo e agora sim o ano começa.

 

 

 

 

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