Despedida

Despedida

“... a morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco.” (Valter Hugo Mãe)

 

A morte apequena quem fica. Como que tolhendo a vida que ainda insistiria em crescer. Restando desarvorados. E desabrigados. Pois se tem poda que faz crescer, a morte, em foice, aniquila e amiúda. Esmaga, encolhendo quem não foi. Que, então, pode deixar de ser. Talvez na tentativa de continuar sendo o que não mais é...

Esquecendo-se de que a revolução está em ser ainda maior por quem não mais está. Pois se passa a carregar dentro. Sendo esta talvez uma saída ante a normalização do que finda a vida. Agigantalhar-se por tantos e muitos cuja vida foi abreviada. Mas nunca vã. Pois que não somos um. Somamos mais de 190 mil. E, então, não estamos sós. Pois aqueles a quem se mantêm vivos, nem mesmo a mais inconsolável das mortes - ou a mais cruel mão que se isenta das próprias responsabilidades - o seu rasto, presença e voz é capaz de apagar. Ou calar.

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Por aqueles que se foram no turbulento ano de 2020. 

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