Do ofício de con-versar

Do ofício de con-versar

“Conto ao senhor é o que eu sei e o senhor não sabe;  mas principal quero contar é o que eu não sei se sei,  e que pode ser que o senhor saiba.” (Guimarães Rosa).

—————

 

Não por prévio conhecimento sobre o outro. Mas, sobretudo, por estar e ser-com, permeável àquilo que acontece entre duas pessoas. Pois que dentro de uma relação. Diante de que se viabiliza ao outro fazer-se estrada, percorrendo as próprias interioridades. Na companhia, na escuta e até mesmo diante do silêncio de alguém. Acendendo, quem sabe, um facho de luz. Faíscas! Que precisam atiçar. Possibilitando ao outro fazer-se um itinerante de si mesmo. Desbrava-dor. A descobrir-se. Pois que mesmo morando em si, há sítios desconhecidos. Até mesmo aldeias! Territórios inteiros. Selvagens, uma vez que desabitados, ermos, primitivos. Posto que vivemos a lonjuras de nós mesmos. Sem itinerários. Distantes, isolados, sós. Nosso ser-tão particular, o qual podemos investigar. Explorar. Perscrutar, penetrar, sondar. Alumiar. Avistar! Habitar? E domesticar. Isto é: tornar nosso, apropriado, pensado, sonhado. Aproximado. Com o qual possamos con-viver. Enveredando-nos. Transitando. Sobre o que, quem sabe, podemos con-versar, elaborando e recriando versos autorais. Que falem, revelem e teçam algo de e sobre nós mesmos. E, assim, talvez nos tornemos menos áridos e desérticos. Pertencentes a nós. Tocados. Pois que acompanhados.  E aconchegados. Aben-sonhados! E, então, apossados. Cada um: de si.

 

Compartilhar: