Entre rasgos e remendos

Entre rasgos e remendos

Da perspectiva de quem vem estudando a questão da Reforma Psiquiátrica desde a graduação, faltam-me palavras para descrever tamanha incredulidade diante do desmantelamento do que se constituiu uma verdadeira conquista da luta antimanicomial ao longo de muitos anos. O impacto do seu desmonte para usuários de serviço de saúde mental e seus familiares, e para a sociedade em geral, bem como a consequente perda dos valores que balizam a prática dos profissionais nesse contexto, mais do que gigantesco, não se dimensiona o tamanho. Mais um retrocesso dentre tantos outros, inumeráveis. 

Rasgam-se títulos, anos de estudos e muito trabalho. Riscam-se nomes que assinaram e assinalaram, com competência e conhecimento, importantes  avanços rumo à consolidação de práticas de assistência afinadas com a humanização. E, sobretudo, rasgam-se: a vida de tantos, a dignidade humana, a esperança, o cuidado, o reconhecimento da alteridade, o respeito à diversidade, enfim, todos os valores demasiadamente humanos. 

E, entre rasgos e remendos, não há o que se comemorar. Posto que o remendo, se houver, é apenas um engodo que visa ocultar o furo já realizado. E apenas para esvaziar. Mal sabendo que esburacados já nos encontramos todos nós. Afinal, o que é mais um furo, um rasgo naquele que já se apresenta com tantos direitos perfurados, perdidos, esvaziados, minados, não é mesmo?

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