Fé na vida

Fé na vida

“As suas esperanças e confiança nunca o tinham abandonado, mas agora estavam arrefecendo como a brisa quando se levanta no ar.” (Hemingway - O velho e o mar)

Como nesse momento, quando a vida se encontra sob tanto risco. Dentre tantos, situa-se o do arrefecimento da esperança quando não mais toca um tão alto número de vidas abreviadas. Ceifadas. Desde muito anunciado, frisa-se. Não é uma insuspeitada surpresa. É a tal da ideia da velha história de “Quem traz na pele essa marca / Possui a estranha mania / De ter fé na vida” sendo substituída pelo enrijecimento, embrutecimento em vida.

Se, no início, o assombro se devia ao desconhecido que nos assolava e pouco podíamos diante do estranho e do medo, hoje impera a inação diante do que poderia ter sido e não foi. Que se esconde sob o escárnio ancorado ao mote “Es muss sein” (tem que ser assim). Que, se por um lado, desperta-nos incredulidade e sensação de irrealidade, também nos causa até vertigem. Afinal, “Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo de queda do qual logo nos defendemos aterrorizados.”, lembra-nos Kundera. 

Mas se se espera que de uma queda se possa levantar, há uma de cujo golpe final, de tão perfeito, não se ergue jamais. Afinal, o que será que tanto estamos a  desejar?

O não embrutecimento diante da vida é, hoje, um ato de resistência. E uma lufada de esperança também. Ah, e o que dizer da ternura..

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