Longe
Ana Flávia de Oliveira Santos
01 Jul 2021 13:42
“Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe. Eu respondia: ninguém é longe. As pessoas são sempre perto de alguma coisa e perto delas mesmas. A minha irmã dizia: são. Algumas pessoas são longe. Quando for grande quero ser longe.” (VHM).
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Ausência seria longe e presença seria perto? Ou haveria de o estar ali ser distante e o longe ser presença? Pares de opostos que podem não implicar negação um do outro. Das contradições que necessitam ser sustentadas ao serem vivenciadas, posto serem da ordem do sentir.
Pois estava ali. Mas não estava. Presente, fisicamente, ainda assim prevalecia o sentimento da presença do longe. Que também sufocava. Ali, em plena aparência, prevalecia uma ausência avassaladora. De uma lonjura que atravessava. E machucava também.
Era preciso se afastar. Mas do que longe estava? Sim, pois aquela presença distante era a marca de uma companhia vazia. Cuja aproximação assustava. Seria possível esvaziar ainda mais? Faltariam fronteiras, limites divisórios? Estaria, na lonjura, invadido por uma presença oca? Afogado em vãos, buracos, vácuos… destituído não apenas do outro, mas de si mesmo?
Mas ausência não precisa ser falta, nem ser longe. Pois que mesmo a presença está além do físico. O distante pode ser geográfico, mas não precisa se fazer ausência oca. Pois que é possível se fazer presença, ainda que na distância, posto não implicar a solidão do abandono-des-amparado, que pode ser sentida inclusive colado, aderido ao outro. Pois perto também não significa presença. Já que a sensação predominante pode ser de uma cratera entre, daquela intransponível, pois que seus veios são subterrâneos e suas raízes desconhecidas.
Pois que na relação com o outro, há sempre uma perturbação. Não só fora, mas dentro. E também se é possível se fazer lonjura à distância de um instante. E até de si mesmo. Já que ausência ou presença dizem mais de um estado de sentir do que a quantos passos dois ou mais se encontram um do outro. Ou mesmo em que lugar dentro de mim me encontro ou não comigo mesmo.
