Sobre o tempo e a "modernidade"

Sobre o tempo e a "modernidade"

Os tempos atuais são caracterizados por um ritmo frenético, em que a ordem é a "aceleração de todas as coisas".  Observa-se um modo de vida em que não há espaço, não há tempo, não há espera, não há contenção de si e das próprias emoções. Vive-se de modo agitado, agilizando-se o próprio tempo, que, limitado, impõe-se diante do excesso, do exagero, do imediato, da pressa característicos do que Bauman (2001), sociólogo polonês, denominou "modernidade líquida". Essa terminologia se refere à liquidez presente na sociedade atual, em que o que se vive se assemelha aos líquidos, que não possuem forma, moldando-se ao recipiente que os contém, transbordando, escorrendo, tamponando vazios, e cujas relações (consigo, com o outro, com o mundo) são superficiais e descartáveis.

Os avanços com que todos nos deparamos tornam-se questionáveis quando reconhecemos na aceleração do cotidiano o vazio; a impotência; a intolerância à frustração e à limitação; a impossibilidade de se estar só e de contenção dos impulsos e das emoções... O funcionamento da mente passa a operar em níveis do imediato, do instantâneo, do prazer sem consequência, que denunciam a dificuldade de se lidar com a realidade. 

O desenvolvimento mental e a ampliação do pensar encontram-se na contramão dessa dita "modernidade". Exige o desenvolvimento de condições de sustentabilidade para o pensamento, que passam pela tolerância, espera, pausa, reconhecimento das próprias potencialidades e limitações, autoconhecimento, uma travessia muitas vezes dolorosa e sentida como solitária, pois exige rompimento com um modo autômato e desvitalizado de se viver a vida, sem de fato vivenciá-la.

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BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. 258p.

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