Dá-lhe Lebreiros!

Dá-lhe Lebreiros!



FUI E GOSTEI - *Por Isadora Reis

Depoimento da atleta de corrida de aventura da equipe de Ribeirão Preto Lebreiros. Alguns integrantes participaram nos dias 13e 14 de julho da 1ª edição do Haka Expedition, prova de 100 km, realizada em Botucatu (SP). A dupla – Isadora a seu pai Frederico – conquistou o 1º lugar, o que garantiu uma inscrição para participar da prova internacional Desafio Aysén, que acontece no Chile em janeiro de 2014.
Confira o depoimento da atleta!


“Correr ao lado do meu pai sempre foi um presente divino. Compartilhar as superações físicas, emocionais e psicológicas que a corrida de aventura proporciona com uma das pessoas mais importantes da sua vida não é pra qualquer um e me considero verdadeiramente privilegiada por isso!

Todas as provas que corri ao lado desse grande homem foram especiais e únicas. Provas de distâncias curtas e longas, rápidas e demoradas, que viraram a noite ou não... Foram muitos desafios vencidos e muitas histórias para contar! Mas, acredito que esse final de semana foi um dia único e uma prova que ficará detalhadamente em nossas memórias para a vida inteira!Antes de começar a contar um pouquinho da prova, quero agradecer algumas pessoas: 

- Ao meu pai: papai, parabéns pela navegação! Prova zerada, não erramos nada! Você é demais! Correr com você é incrível e sei que ainda virão inúmeras provas! Parabéns pelo super atleta que você é! Obrigada por tudo apoio e empurrões nessa prova!


- À minha mãe (Paula Vital Reis) e ao meu namorado (Tarcísio Freitas): vocês foram a melhor equipe de apoio que qualquer competidor poderia ter. Com tudo extremamente pronto e organizado. As transições rápidas que fizemos foram imprescindíveis para o resultado da prova! Além disso, ver os rostinhos de vocês em cada PC era uma injeção de força e renovação! Muito obrigada por tudo!

- À equipe Lebreiros e apoios presentes em Botucatu: sem vocês não seria a mesma coisa! Obrigada pelo carinho, pela amizade e por toda a diversão! Parabéns para os que competiram e pelos resultados obtidos! Tenho certeza que cada um ultrapassou algum limite e, no final, isso é o que mais importa!


- À dupla mista da equipe Aksa, Vavá e Talita: obrigada pelo companheirismo durante, praticamente, 80% da prova! Vocês foram demais! Como já disse, fui para essa prova já com a certeza de que o primeiro lugar seria de vocês e que estaríamos coladinhos em segundo! Adoro ver vocês no alto do pódio e isso não vai mudar! Vocês são grandes atletas e têm corações incríveis! Obrigada por permitir a mim e ao meu pai vivenciarmos algo que amamos tanto ao lado de pessoas como vocês! É porque existem atletas e pessoas como vocês que a corrida de aventura é o que é!

Bom, agora que algumas "declaraçãozinhas" foram feitas, vamos para o relato: 

Tudo pronto, largamos 12 horas da praça da catedral, no centro de Botucatu, interior de São Paulo. O primeiro trecho era um pedal de 20,4km. Tirando o começo, que tivemos que pedalar em caminhos de gado e pular inúmeras porteiras, o pedal foi relativamente tranquilo! Depois de muito areião na estrada de terra, chegamos ao primeiro encontro com o apoio no PC (Posto de Controle) 3 !!

Deixamos as bicicletas, trocamos as sapatilhas de bike por tênis e saímos para um trekking de, mais ou menos, 4 km até a pedra onde aconteceu o rapel. Pra subir até lá foi um sufoco! Meu Deus! Até de joelho e agarrando na grama a galera ficou! O vertical aconteceu nas famosas Três Pedras de Botucatu! Lugar lindo, que vale à pena ir mesmo para dar um passeio! Esse momento da prova, o meu pai e eu fizemos todo junto com o Vavá e a Talita, dupla incrível da equipe Aksa. Apesar de concorrentes, amigos que fizeram com que a prova fosse ainda mais especial! Os dois homens desceram no vertical, enquanto a Talita e eu esperávamos embaixo das pedras! Quando eles desceram, saímos para mais um trekking! Esse de, aproximadamente, 10 km e com muuuuita areia e algumas subidinhas! Mas, fomos embora correndo até encontrar o apoio de novo no PC 5 !! 

Pegamos a bicicleta de novo e saímos para mais um trecho de, mais ou menos, 42,7km de bike!! Nos separamos do Vavá e da Talita que saíram um pouco na nossa frente! Já era quase 18 horas. Ia começar a escurecer e precisávamos encontrar o PC Virtual! O PC Virtual era uma placa na qual tinha uma informação que precisávamos memorizar! Como a visualização desse PC era mais difícil, fizemos de tudo pra conseguirmos chegar de dia... Isso significou que socamos a bota no pedal!

Pedalamos forte até o 7 e fomos para o 8, onde passamos 18h30, duas horas antes do corte (20h30). Seguimos para o PC 9, onde encontraríamos o apoio mais uma vez! Para a nossa surpresa, chegamos juntos com o Vavá e a Talita! O problema é que era hora de ir para o remo! O meu pai e eu sempre soubemos da força da nossa dupla adversária na água e tínhamos certeza praticamente absoluta (com exceção da pontinha de esperança que sempre fica) que perderíamos a prova ali!

Entramos na água às 19h05 e remamos 14 km num friozinho e escuro relativamente chatos! Mas, o escuro só foi chato até a primeira olhada que dei para o céu e vi uma das noites mais lindas que já tinha presenciado! O céu totalmente estrelado e uma lua linda que deixava totalmente iluminado o que era para ser breu total! E nessas horas você pensa: o que eu faço em São Paulo? Pois é...Bom, saímos da água às 21h30 e ouvimos o staff da prova dizer: "Vocês são a primeira dupla mista"! Ficamos meio em choque por alguns minutos... Meu pai perguntou se realmente a dupla da Aksa não tinha passado por ali e ele nos confirmou que não. Achamos estranho, mas seguimos...

Ficamos por um tempo quietos, correndo no escuro e, para variar, na areia... Nenhum dos dois falava nada, até que meu pai disse "Se o Vavá e a Talita não saíram da água... a gente tá em PRIMEIRO! BORA FILHA!"... Corremos forte e totalmente duros da água gelada, porque estávamos molhados, até o nosso próximo encontro com o santo apoio no PC 12!

Fizemos a transição ser o mais rápida que conseguimos! Ainda teríamos que atravessar um rio nadando, então colocamos roupas secas em um saco estanque em nossas mochilas, pegamos a bike de novo e saímos! Faltavam 26,4km para a chegada... E eu nem sabia mais que horas eram! Já estávamos muito cansados, pensando que a dupla "adversária" (se é que podemos chama-la assim) estaria logo atrás e tentamos pedalar o mais forte que conseguíamos! Cruzamos o rio de uma maneira que conseguimos nos molhar o mínimo possível, o que facilitou muito nossa vida, porque não tivemos que perder tempo pra trocar de roupa! Para sair do rio e pegarmos a estrada, passamos por um pedaço de charco chato no qual tivemos que empurrar a bicicleta por 1,6km!

Enquanto isso, o medo deles nos alcançarem crescia, o cansaço aumentava e todas as sensações, que até então tinham sido estancadas pela adrenalina, faziam com que começássemos a perceber a fome, o sono e o frio... Quando chegamos na estrada encontramos o Léo, organizador do Haka Race! Perguntamos sobre o Vavá e a Talita e a resposta que tivemos foi: "Está tudo bem com eles! Inclusive, vaza, porque eles estão há 2 minutos atrás de vocês". Eu já quase não tinha mais força, mas ouvi meu pai dizendo: "Filha, é nossa chance de ganhar essa prova! Tire força da onde você não tem"!

Eu realmente não tinha e nem sabia o que vinha pela frente, mas simplesmente sentei na bike e comecei a pedalar... Mal sabia o que me esperava! Mais 4 km ininterruptos de uma subida de cuesta! Achei que ficaria ali mesmo! De repente comecei a fazer a única coisa que me restava... rezar, de verdade... Enquanto subia, rezava todas as preces que sabia de cor!! Não só para me distrair, mas porque, sinceramente, acreditava que aquilo me daria forças de alguma maneira! A terra acabou. Faltavam só mais 6 km de asfalto, mas isso não queria dizer que a subida tinha acabado! Fizemos mais força... Nem olhávamos pra trás para tentar esquecer a hipótese de que eles poderiam estar ali! E então, conseguimos!

Cruzamos a linha de chega à 1h10 da manhã! Depois de 13 horas de prova e 130 km de prova!! O meu pai e eu não conseguíamos conter o choro! Eu ainda estou tentando entender o que foi a emoção em ter ganho essa prova! Fiquei esse semestre sem treinar, longe do que eu mais amo fazer e achei que demoraria muito pra recuperar minha forma física! Esse pódio foi um presente!

Estou muito feliz e deixo uma mensagem a todos: nunca ache que você não é capaz! Porque você é sim! E agora, com a inscrição ganha do Chile, ‘bora’ para minha primeira prova internacional! O Desafio Aysén! Valeu galera! E dá-lhe Lebreiros!!

 

 

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