É ruim, mas é bom!

É ruim, mas é bom!



Foi isso que ouvi de uma amiga-querida, prima e quase irmã mais nova – Camila – após corrermos uma meia maratona neste último domingo, em São Paulo: a Golden Four ASICS. Segundo ela, “é ruim, mas é bom”. Atentei-me a essa frase e, realmente, é isso mesmo!

Bom? Demais! Ruim! Bastante! Realmente, foi essa a sensação durante as duas horas de corrida, em uma manhã gelada e com uma névoa imensa, que fazia qualquer pessoa “normal” continuar dormindo embaixo do edredon durante um domingo. E não acordar às 5 horas, sair de casa ainda no escuro, encapuzadas, com a cara de sono e “espantavelmente” com uma animação sem tamanho. A turma dos mais “normalzinhos” dormiria um pouco mais, esperaria pelo menos o sol aparecer. Ah, e não é que ele apareceu? Mais tarde, mas deu seu ar da graça na manhã deste domingo e iluminou um dia que ficou na memória de muita gente – principalmente aqueles que bateram seu recorde pessoal em uma das meias maratonas mais rápidas da cidade – e também mais fria: 8 gélidos graus.

A sensação deste domingo foi essa mesma. Bom e Ruim. Aliás, muito ruim após o km 17! A cada passada a sensação do frio aumentava ainda mais quando uma forte neblina insistia em ali permanecer. A sensação era de formigamento nas mãos.  Os dedos duros. As pernas já estavam pesadas, o ritmo começava a cair. E o joelho começou a dar sinal que ele existia! E o que eu mais ouvia era – “mantém o ritmo, agora encaixou”. Que encaixou que nada! A cada passo, o que eu mais sentia era um desencaixe total. Essa foi a sensação ruim. Uma vontade de sair correndo dali, literalmente, gritar, abandonar... É um momento em que tudo dói. E chorar quase é impossível, porque o choro desestabiliza a respiração aí parece que o negócio fica pior. É tanto fantasma para espantar...

Mas, em meio a algumas pitadinhas de agonia, tudo isso tem a parte boa sim. É aí que a gente se sente vivo, livre e com a sensação que quem manda em você é apenas seu pensamento. É nesta hora que você corre com a cabeça. A corrida proporciona exatamente isso: um envolvimento com você mesmo e com todas as partes do seu corpo e da sua mente. É nesta hora que um filme passa pela cabeça: momentos lindos, alegres, tristes, de gente que não está mais aqui... É uma reciclagem de pensamentos! Tudo isso tem a grande capacidade de te empurrar lá pra frente. Aí que surge aquela vontade de chegar até o final, mesmo com uma certa dificuldade, em passar o cara da sua frente, em conseguir fazer um tempo melhor, vencer o seu limite. É um desafio.

E o desconforto todo lá em cima? Ah, a gente nem lembra mais dele! Uma força que vem lá do fundo que não te deixa desistir. Bate até um medo, mas a adrenalina é tão grande que a respiração ofegante, o suor, o calafrio fazem qualquer falta de carboidrato não desistir. É a renovação da energia. A corrida é democrática. Claro, ganha quem chegar primeiro. Mas ganha também quem chegou até ali. Gente que bate seu recorde pessoal. Gente que correu pela primeira vez. Gente da terceira idade que nem se importa com as dores nos joelhos. Gente que treinou. Gente que não treinou nada e se deu super bem! Gente que não obedeceu seu treinador (!!). Gente apaixonada e com fôlego falando ao telefone: “amor, cheguei no km 20. Me espera na chegada - Te amo!!” . Gente encantadora que chega com um brilho nos olhos. Gente que corre junto, espera, ajuda, dá a mão... Gente que se surpreendeu. Gente de atitude! Gente feliz! Isso é correr.

O casal Camila e Eduardo: corrida ritmada

E como disse a Camila lá em cima: pode ser ruim... Mas é muito bom!  

*Mas, para alcançar um tempo melhor, isso é fato: seguir regras e obedecer mais seu treinador (o corredor do meio na foto)! Valeu Rangel, na próxima serei mais disciplinada!

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