FUI E GOSTEI || Haka Race – mais de 20 horas de prova

FUI E GOSTEI || Haka Race – mais de 20 horas de prova

O capitão da equipe de corrida de aventura de Ribeirão Preto, Lebreiros, Frederico Reis, e sua filha, Isadora Reis, (uma “baixinha porreta dura na queda”) participaram do Haka Race 150 km, realizada em Extrema (MG). Dando sequência ao espaço FUI E GOSTEI, segue o relato do atleta que mostra como foi participar de uma das provas mais duras do circuito de corrida de aventura. E a pergunta: “Foi e Gostou”? Certamente! Pois, segundo ele, ano que vem tem mais! Confiram!

Por Frederico Reis



Toda Corrida de Aventura é deliciosa para mim. Mas, essa prova de 150 km é especial! Adoro poder fazê-la - ainda mais depois de ter sido desclassificado no ano passado por ter passado após percorrer um caminho proibido e ter ficado muito decepcionado - nada melhor que após um ano ter a oportunidade de fazer outra prova e completá-la.

Fomos em um quarteto, a LEBREIROS (formado pelo Chris Guariglia, Fernando Lordello, Lívia e Flávio) e uma dupla mista, a LEBREIROS WHIPET (formado por mim e a Isadora Reis – minha filha). Devido a logística envolvida em uma prova como esta, estivemos pouco com o pessoal do quarteto que estava em outro hotel, mas nossa prova começou logo depois da entrega dos mapas, road book, race book e kit de prova.  

Fomos para o hotel e com os mapas na mão, pude fazer a plotagem, ou seja, marcar os PCs (Ponto de Controle), verificar as modalidades e montar toda nossa estratégia. Encontraríamos o apoio em  4 dos 16 pcs, aproveitamos enquanto esperávamos nosso jantar, fomos definindo com nosso apoio o que precisaríamos em cada transição. O apoio, desta vez, formado por Paula e Tiago, tomaram nota de tudo e absolutamente tudo funcionou conforme o planejado. 

Largamos de bike, uma perna de 60 km, em que no meio parávamos para fazer uma tirolesa maravilhosa. Nossos principais adversários eram a AKSA, formado pelo Vavá e Talita, e desci a tirolesa logo atrás dele, deixando a Isa e a Talita conversando lá em cima na transição. Saímos da tirolesa em direção a Monte Verde, no PC5, nosso primeiro encontro com o apoio. A organização fazia uma previsão de chegada dos primeiros colocados às 15 horas. Chegamos 5 minutos depois da AKSA, às 14 horas. PC6 e PC7 estavam no alto da serra de Monte Verde, o 6 era a Pedra do Chapéu do Bispo, escolhemos um caminho diferente e chegamos ao PC6 juntos com a AKSA e juntos iniciamos a busca pelo PC7. No caminho minha panturrilha que já não vinha boa (maldito futebol que amo tanto), deu uma baita fisgada, precisei segurar o ritmo e acabamos permitindo uma distância da AKSA. Eu estava correndo mancando e rezando, pedi muita ajuda divina, ela veio, me fortaleceu e a cada momento mancava menos, Deus pode tudo! 

Repetimos o caminho de volta, tiramos alguma diferença, mas no PC8, novo encontro com o apoio, não chegamos a ver a AKSA, encontramos o Chris com o quarteto, que chegava para iniciar a subida: festa para todos! Conseguimos fazer o trekking mais difícil em 3 horas (era previsto  4 horas).  O relógio marcava 17 horas -  dava tempo para chegar em Joanópolis com as bikes antes de anoitecer. Saímos em busca da AKSA e mais uma vez agradeço ao HAKA MTB, pedalamos muito nesses 40Km e chegamos no PC10 pouco depois de nosso apoio e para nossa surpresa, a AKSA estava lá se preparando para sair. Esse encontro com o apoio seria o mais preocupante, pois estava anoitecendo, 19 horas, e faríamos um trekking de 5Km e depois um remo noturno na represa de Jaguari. 

Comida, lanternas, baterias reservas, roupas de frio e saímos para o trecho que seria o decisivo da prova, segundo a organização, e foi mesmo! O remo era de um extremo a outro da represa, totalizando 26 Km e ainda tínhamos que encontrar 2 PCs, o 12 e 13 no meio da represa, que era cheia de braços e a noite, só quem já encarou sabe o que estou dizendo, tenho pouquíssima noção da distância que percorro remando em um determinado tempo, mas a Talita e o Vavá nos deram dicas fundamentais: usar a cintura para remar foi a principal -  saí com meus braços inteiros.  A segunda dica foi remar com as lanternas apagadas, assim veríamos melhor as silhuetas das montanhas nas margens:  fizemos isso e mesmo com toda minha pouca experiência e com muita sorte, achamos o PC12, isso porque eu achava que já estávamos perto do 13. Quando achamos o 12 eu sabia que tinha que manter a margem direita da represa que uma hora chegaríamos no PC1. 

Assim foi.  Fomos cantando. Foi uma delícia! Ninguém reclamava da minha voz, só os peixes, que assustados pulavam para dentro do caiaque. Pude escutar minha filha cantando para mim "Rolling In The Deep", depois de meses pedindo, emocionante, momento único. 

Quatro horas depois do início, chegamos e assinamos o PC13. Agora era margear o lado esquerdo e encontrar a entrada que encerraria o remo e chegaria ao PC14. Que nada! Meu único erro de navegação foi aí? Passamos reto, encontramos uns cinco barcos procurando a mesma saída e este erro nos custou 1 hora há mais de remo. Não queiram saber o que é isso, ficamos seis horas remando. Finalmente quando chegamos ao PC14 nossa alegria se esgotou - os barcos que chegaram juntos com a gente estavam com metade do corpo atolados, tentando puxar os sit on top duplos. Sem conseguir sair do lugar, a Isa tentou descer, afundou e desesperou, pois não conseguia mexer nada, morri de medo de fazer força e me dar cãibra. Mas não restou outra forma. Puxei a Isa, consegui tirá-la do atoleiro. 



Mas, o sofrimento ainda não tinha acabado: tínhamos que entregar o barco no caminhão que ficava no topo de uma subida de uns 200 metros. A Isa estava com muito frio, eu não conseguia arrastar o barco só, ou seja, perdemos muito tempo neste único perrengue da prova. Cumprimos. Fomos em busca do PC15, último encontro com nosso apoio. 

Fizemos a nossa pior transição, mais tranquilos. Colocamos roupas secas, tiramos todo o barro e 30 minutos depois da chegada no PC saímos para o último trekking de 13Km, com muitas subidas. Com o mapa perfeito, saímos às 4h35 da manhã do PC15. Acordamos o PC16! Foi engraçado, o cara levou um susto! 

Seguimos para a praça matriz de Extrema. A Isa queria correr, eu tentava, mas não dava mais. Olhava para traz para ver se alguém se aproximava, ninguém, graças a Deus! 


Chegamos, a Paula e o Tiago heroicamente nos esperavam no pórtico, exatamente às 6h35. Com 20h40 de prova, cruzamos  a linha de chegada. Fomos o segundo lugar na dupla mista e 11º na geral. O que foi legal! Mas, maravilhoso mesmo, foi cumprir a missão em terminar a prova de 150 Km e realizar um sonho da Isa. Parabéns filha! Você foi demais! Está muito bem preparada. Não precisei te dar nenhum empurrão e terminamos os 96 Km de bike sempre entre os primeiros colocados. 

Para a Paula (minha esposa) e o Tiago só tenho que dizer que foram perfeitos, que nada falhou. Eram muitas recomendações e diferentes em cada encontro: bebida sempre gelada e na quantidade certa. Foi demais, muito obrigado aos dois. Isa, que venha 2013!

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