Programa de índio?

Programa de índio?

Barca furada, fora da ordem, opção errada, coisa de louco... Estas são algumas das definições da conhecida frase “Programa de Índio”, quando alguém quer identificar algo que deu errado ou então se transformou em catástrofe. Mas por outro lado há muito ‘programa de índio’ pra lá de bacana – se bem que chega a ser duvidoso qualquer coisa com essa população nativa dar errado, pois vivendo em contato com a natureza a vida fica ainda melhor. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, “índio é todo indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está em contato”, ou seja, a frase também poderia ser “programa de brasileiro”.

E como uma boa brasileira que ama correr, a São Silvestre não é programa de índio e sim de brasileiro. Sim, de gente festeira, alegre, feliz, que adora cantarolar, sambar e, apesar dos problemas diários, não deixa a peteca cair e ainda reserva o último dia do ano para comemorar – em uma confraternização no esporte.

São estes brasileiros que se reuniram na manhã do último dia do ano para percorrerem os 15 km entre ruas e avenidas da grande São Paulo. Só de inscritos foram mais de 25 mil pessoas, fora os famosos ‘pipocas’ – que é a galera que corre sem número de peito, mas que colabora para dar um brilho extra a essa festa de encerramento e comemoração de todos os treinos e renúncias dedicados durante o ano, totalizando, creio eu, umas 40 mil pessoas. 



Tinha gente de todo jeito – gente que corre muito que foi para ganhar. Gente que não foi para correr, mas que garantiu um colorido especial à festa. Gente que caminhou. Mas tinha gente do pelotão da elite e do pelotão dos amadores. Personagens infantis, um monte deles espalhados pelo trajeto: tinha o incrível Hulk, o Quico – aquele do Seu Madruga (correndo sozinho abraçado com sua bola enorme), o caubói Woody do Toy Story, o Shrek. Tinha também o Silver Surfer, o super herói prateado que mesmo correndo posava para as fotos. Ah, tinha também o eterno Elvis Presley – esse acompanhado inclusive de um amplificador de som com direito a música alta, microfone e performance.

Silver Surfer (Crédito Agência Brasil)

E sem esquecer a galera que correu fantasiada: as senhoras bailarinas, uma mulher de árvore de Natal com bola e tudo, Lampião e Maria Bonita e até o Ayrton Senna. O sósia do goleiro Cássio também estava lá, assim como o Falcão, Tiririca e por aí vai...

Na superação, pais correndo com carrinhos com seus filhos especiais. O legal era ver as pessoas ajudando, levando água e gritando – “abre caminho, carrinho passando”. E o corredor de gente se abria.

Tal Pai, Tal Filho
Teve também filho que correu com o pai, pela primeira vez: o personal trainning Eduardo Visentini (o filho de 30 anos) correu a prova toda ao lado de Paulo Visentini (o pai de 60 anos).  Foi o filho que incentivou o pai a voltar a treinar após ganhar de presente de Dia dos Pais um plano semestral de academia. Era gente de toda idade – nova, jovem e idosa: quantos senhores firmes e fortes esbanjando saúde e disposição em muito moleque de 20 anos de idade!

Pai e Filho: Paulo e Eduardo Visentini correndo juntos pela primeira vez na São Silvestre

E quem não lembrou de Sampa, de Caetano Veloso, ao passar pela Avenida São João... “alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João. É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi, da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas”. Para quem é fã, difícil foi não associar!

E, claro, teve também a ilustre Brigadeiro, ah a famosa subida da Brigadeiro com seus mais de 2 km de extensão. Ela até assustou, mas não desanimou não, tamanha era a torcida da galera que ficava na calçada incentivando, gritando, batendo na mão dos corredores... Uma festa! O legal era ver, lá embaixo, a rua inteira preenchida – literalmente um “marzão de gente”!

Realmente, é essa emoção da poesia concreta, misturada com a endorfina, a alegria de completar os 15 km, o prazer de estar entre amigos, da conexão do corpo com o bel-prazer e nada, mas nadica de tristeza. Aliás, é impossível! Quem chegou triste, logo foi abduzido pelo alto-astral. É uma corrida do riso, da alegria, da diversão, da democracia, do “vai do seu jeito”... E tudo isso embaralhado com gente brasileira, de Corinthiano gritando o famoso “Vai Corinthians”, em uma manhã que o sol fez questão de aparecer para iluminar o último dia de 2012 em São Paulo.

Enfim, o ano acabou, a São Silvestre foi cumprida, os desejos foram evocados, a saudade dos que não mais estão aqui deu seu sinalzinho... Mas, a folhinha do calendário já virou, 2013 chegou e continuemos a correr atrás de nossos sonhos! Sobre a São Silvestre? Ela é o MÁXIMO!



Medalha para quem completou os 15 km

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