Torta de Banana. Eu me apaixonei!

Torta de Banana. Eu me apaixonei!


Há mais de 10 anos viajei com meu irmão e minha irmã para Jericoacoara, ou Jeri, para os mais íntimos. O paraíso, que fica no Ceará a apenas 300 km de Fortaleza, está entre as 10 praias mais bonitas do planeta. Na época só se chegava até lá de duas formas: carro com tração 4 x 4 ou a Redenção, nome da empresa que faz o transporte, mas que amigavelmente é chamada assim na rodoviária. A Redenção nada mais é que uma jardineira que leva os turistas e a população local até Jeri. Claro que optamos pela “redenção” e passamos pelos melhores perrengues de uma viagem: sol, calor, trepidação, fome e, em alguns casos, a divisão do banco com alguns passageiros locais que levavam no colo algumas galinhas (vivas!): o jantar da noite. Uma aventura que só terminou ao chegar na pousada escolhida a dedo pelo meu irmão. Lembro até do nome: “Ibirapuera”. Linda, localizada ao lado da duna principal e o lugar ideal para ver o sol se pôr. 


Jeri construiu uma fama que rodou o mundo. Não é para menos: cidade rodeada por dunas é dona de um mar com um azul lindo. Acho que é uma das mais belas do nordeste brasileiro. Na época, ruas de areia e sem iluminação acertavam aquele charme especial da vilinha. Hoje, não sei como está: se o turismo tomou conta da cidade ou não, imagino que sim.

Mas, os bons ventos que nos levaram até Jeri foi graças a uma reportagem que a Revista Viagem e Turismo fez do local. Nossa viagem de férias de 15 dias que, no roteiro inicial seria alguns dias somente em Jeri, foi logo invertida. Optamos por ficar quase 10 dias por lá. Já no finalzinho da estadia, éramos conhecidos como “os três irmãos”, tamanha a intimidade que fomos adquirindo com as pessoas que moravam lá. 

Voltando à reportagem, uma passagem que chamou muito nossa atenção naquela época, além das dicas das praias, lagoas e pôr do sol, era “não deixar de provar a torta de banana da tia Angelita”, que na visão do repórter, era um dos sabores mais característicos daquele paraíso, graças ao tempero e simpatia da quituteira que preparava a torta e vendia em qualquer horário do dia – sempre fresquinha e com cheiro de “saindo do forno”. A parte boa é que a tia Angelita aparecia bem naquele momento que a preguiça e a vontade de ficar com os pés para cima, simplesmente não fazendo nada, batia, acompanhada por uma fome de férias. Porque férias dá uma fome! 



E assim foram todos os dias. Nos horários mais apropriados surgia tia Angelita com sua assadeira brilhando de tanto arear, coberta por um pano de prato branquinho e seu sorriso no rosto. Eu, particularmente, não via a hora de conhecer essa banqueteira que foi tão elogiada por aquele repórter. Provar aquela torta fazia parte da viagem. Todo dia provávamos aquela gostosura, leve, adocicada no ponto certo e melhor de tudo, saudável! Quer coisa melhor do que banana? Viva o potássio! 

O ponto alto da viagem foi conhecer a cozinha de tia Angelita. Sim, eu precisava saber como aquela “ilustre e famosa torta” era feita. Lá, um ambiente caracterizado pela simplicidade de quem nunca tinha saído da vilinha, mas com uma limpeza que refletia nos olhos. E de lá saiu eu com a receita da tia Angelita, a torta que se transformaria na mais famosa de Jericoacoara. E o melhor de tudo: eu conheci seu segredo! O segredo daquela crocância em cima e cremosidade por dentro que com as vendas sustentava uma família inteira (além da torta, tia Angelita vendia também tapioca). Foi o ponto mais alto da viagem, garanto! Além de provar a torta, eu tinha a receita, adquirida com aquela simpatia de quem sabia muito bem receber os turistas. Voltei da viagem muito mais feliz!

Agora vem o motivo deste texto: minha surpresa. Sou assinante da Revista Vida Simples e meu espanto foi saber que aquela torta que eu aprendi a fazer pela própria criadora há muito tempo criou fama no País e pasmem: Jeri tem um shopping – o Shopping Tapioca, uma doceria com ares rústico, construída por Angelita Ferreira, de 65 anos (descobri tudo isso na matéria!), já com 13 anos de funcionamento. A torta da tia Angelita dobrou fronteiras e virou celebridade. Ganhou pompa de gente grande.

Na matéria descobri que, por conta da idade, ela não vende mais sua gostosura de porta em porta e que não trabalha todos os dias. O negócio é tocado pelas filhas.

Moral da história: o que é bom a gente nunca esquece. Lembro-me do sabor daquela torta até hoje. Mais um detalhe: me arrisquei a fazer em casa a torta de banana. Claro, não ficou igual! 


 

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