Vida de corredor

Vida de corredor

Só quem corre sabe o quanto é bom terminar uma prova seja ela 5, 10, 21 ou 42 km. Só quem corre sabe o que é acordar com a lua ainda lá no céu e ver o sol nascer no meio da prova. Quem corre sabe, literalmente, o sentido de lavar a alma quando a chuva cai.

Corredor não se importa em trocar o dia pela noite, a cerveja pelo isotônico, o pastel pela cenoura (confesso que esta substituição ainda não foi realizada 100% por mim!).

Quem corre sabe o que é o limite do corpo, sabe o que é cada dor e cada desconforto que passa pelos músculos, ossos, pés e unhas! Sabe o que significa quando o corpo pede um stop e a mente grita "não desista". Sabe a rapidez de um cronômetro. Entende a diferença e a distância de minutos, horas e segundos. 

Quem corre não se importa em dormir às 21 horas em uma das cidades mais agitadas do mundo e acordar na madrugada, com chuva, enquanto outros chegam de bares, festas, paqueras, chopes, jantares... E o melhor de tudo: desperta feliz, agitado, diria até ansioso.

Só quem corre sabe o valor de uma lágrima no meio de uma prova, quando os pensamentos estão não se sabe onde, mas as pernas estão em total movimento com uma sincronia perfeita entre o passo, a respiração e a vontade louca de jamais desistir. 

Corredor é taxado de doido! Doido por não participar de todos os programas sociais, doido porque viaja para correr, doido por ter disciplina, doido por se arriscar. Sim, é doido mesmo! Doido pelo vento batendo no rosto, pelo suor escorrendo. É  doido pelo coração batendo mais forte, pela respiração ofegante. Doido por conviver com câimbras, dores musculares e até mesmo pés sem unhas. São eles - homens, mulheres, jovens, adultos, idosos, negros, brancos ou amarelos que correm pelo seu prazer – seja ele qual for. Na corrida não há distinção, credo ou sexo. Todos estão ali em busca da superação do próprio limite do corpo, da alma e do coração. 

No dia 08 de julho de 2012, por exemplo, no Rio de Janeiro, durante a Maratona da Cidade do Rio de Janeiro, foram mais de 20 mil pessoas - cada uma na sua prova (6, 21 ou 42), ritmo e objetivo - que de alguma forma dedicaram seu tempo para os treinos e estavam ali, todas reunidas, correndo. O cenário era magnifico: a beleza das praias da capital carioca se emaranhava com gente de todos os estilos e cantos... correndo. O final? Emocionante! Lágrimas e sorrisos se misturavam... A palavra era unicamente "parabéns"! 

Naquela manhã, com tantas emoções, pessoais principalmente, uma me tocou muito. No fim da prova, um pai corredor aguardava a filha chegar. Ao vê-la, seu sorriso se abriu e ela, imediatamente, gritou: “pai, eu consegui!”. Em minutos, os dois se abraçaram por longos minutos. Esta cena muito me marcou, porque o que eu mais queria naquele dia era poder fazer o mesmo, mas infelizmente meu pai faleceu em dezembro do ano passado, vítima de um câncer no estômago. Toda corrida que eu participava, ele sempre me esperava para poder ver a medalha e saber sobre a prova. Nesta, infelizmente ele não viu, mas garanto que boa parte do percurso meus pensamentos estavam nele.

E pergunto, você sabe por que tudo isso? Essa doideira, esse mix de anseios e sentimentos? Porque corrida é puramente emoção. É saúde. Corrida é socialização. Corrida é união. Corrida é disciplina. Corrida é paixão... paixão de gente "doida"!  

Enfim, let's run!

 

Compartilhar: