Circunstâncias

Circunstâncias

Uma vez li que uma pessoa pode se comportar de duas formas ao ser picada por um inseto: ficar estagnada e reclamar do incidente, ou continuar a caminhada e buscar um paliativo. Hoje, não tenho dúvidas de que essa metáfora é mais do que adequada para os atuais e turvos dias que temos vivenciado. 

Relembrei essa história ao ouvir uma frase que muito me tocou. Era um pensamento do Viktor Frankl, que diz: “Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável, devemos transformá-la; e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”. Há tempos eu não lia algo que me fazia refletir tanto.

Lembrei de quando comecei a Revide, nos idos de três décadas atrás. Quando ninguém sabia sobre de que se tratava o projeto, precisei explicar muitas vezes. Conversei com muita gente a respeito da revista e tudo o que estávamos propondo. Era algo novo, que realmente precisava ser detalhado. Passei a me encontrar com empresários com frequência e dissertava sobre o trabalho que faríamos na publicação. Acabei por desenvolver ali uma boa oportunidade, que até então eu não fazia ideia que existia. Descobri em mim um talento e percebi que poderia atuar na área comercial. Foi uma circunstância positiva que utilizei a meu favor.

Apesar disso, precisei aceitar uma situação que pouco me agradava: eu queria fazer jornalismo, escrever reportagens, pensar em pautas e fazer entrevistas, não ser vendedora. Fiquei responsável pela área comercial no início sem de fato querer assumir essa posição. Alguns anos depois, até passei a reconhecer que tinha alguma habilidade para os negócios, mas foi difícil aceitar que abdicaria de algo que eu realmente queria fazer para trabalhar em outra função. Talvez depois de uma certa relutância, aceitei. Transformei aquela situação que não me agradava em algo positivo e, hoje, entre tantas frentes na Revide, a área comercial segue entre minhas atividades.

Acho que o grande desafio na nossa vida é a dificuldade em nos depararmos com as nossas incapacidades e insuficiências. Custamos a aceitar as circunstâncias desfavoráveis e talvez apresentemos até uma resistência na transformação de nós mesmos — que é o que precisamos fazer quando não podemos transformar a realidade.

Embora às vezes pareça difícil acreditar, nosso maior poder está em fazer as mudanças internas e, por muitas vezes, nos impedimos de avançar, esperando que tudo o que está à nossa volta mude, enquanto, passivamente, assistimos. Esquecemos o quanto é preciso investir em nós mesmos e, mais do que isso: esquecemos o tamanho do nosso poder de transformação.

Nos últimos dias, os pensamentos sobre transformações e mudanças me tomaram boa parte do tempo. Entre tantos desencontros e tormentas na vida, a capacidade de se manter firme diante das adversidades é o caminho possível. Transformar-se diante das circunstâncias que não podem ser alteradas é a maior prova de resiliência que podemos experimentar. Nem sempre é fácil, mas não tenho dúvidas de que vale a pena. 

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