Como passa o tempo

Como passa o tempo

No último feriado de Carnaval, tirei os dias para desacelerar. Costumo estar sempre ligada no 220, como dizem meus amigos. Descanso, para mim, é escasso, porque acabo sentindo prazer em gastar energia com aquilo que gosto: corrida, bicicleta e o próprio trabalho. Quando reduzo a velocidade cotidiana, usualmente, leio e assisto a algo que goste na TV. Mas essas paradas são rápidas e quase passam despercebidas em meio à correria dos dias.

No Carnaval, portanto, desacelerei de vez. Algo não muito comum para mim, porque, até quando viajo, permaneço conectada ao mundo real, anotando as ideias que surgem e preparando a pauta para os dias seguintes. No entanto, decidi não me ocupar com aquilo que já toma minha rotina completamente. Fiquei mais distante do celular, em outra cidade, sem muitas companhias. Tirei o tempo para ler e refletir sobre tudo o que temos passado nestes últimos anos no Brasil: um país dividido, sem esperanças e envolto em ódios obscuros.

Acho que a experiência dessas reflexões eventuais sobre tudo aquilo que vivemos cabe muito bem para uma vida com mais plenitude. Parar e pensar sobre o que temos feito pode ser útil para recalcularmos a rota quando necessário ou corrigirmos comportamentos que já estão arraigados no dia a dia.

Foi em meio a essa reflexão que li o texto “A Vida é Curta”, de Paul Graham, publicado na revista Época de 11 de fevereiro. Reproduzo, aqui, o trecho final: “reduza as bobagens, sem piedade, não espere para fazer aquilo que importa e aprecie o tempo que você tem. É isso que você faz quando a vida é curta”, escreve o autor. 

Parei para pensar quantas vezes repetimos que o tempo passa rápido, ou que, de fato, a vida é curta. Mas refleti, também, sobre o que tenho feito com esse tempo que me é dado e com as oportunidades que surgem. Quantos momentos que são dedicados a reuniões sem importância, conversas idem, disputas sem sentido, burocracias, afetações, correção de erros de outras pessoas, engarrafamentos e passatempos viciantes, mas que não agregam. Provavelmente, ele diz, quando nos questionamos se gastamos nosso tempo com tudo isso, já sabemos a resposta.

Ainda segundo o autor, a maioria das empresas está imersa em bobagens e o importante é, conscientemente, priorizar e evitar as baboseiras cotidianas, evitando o que pode ser tóxico — entram aí algumas pessoas, inclusive.

Para Paul Graham, poucos são os sortudos que percebem cedo o que gostam, pois a maioria das pessoas começa com uma vida que mescla ações importantes e desimportantes, para, depois de muito tempo, conseguir diferenciá-las. Para distinguir o que vale a pena, afirma ele, a pergunta-chave é: você se preocupará com isso no futuro?

O autor propõe cultivar um hábito de impaciência com tudo aquilo que você mais quer fazer. Não é necessário ficar o tempo todo relembrando que não deve esperar: só não espere.

Na opinião dele, é até possível desacelerar o tempo. O que ajuda, é tirar tudo de uma certa experiência, sem arrependimento do quanto poderia ter vivido mais dela.

Costumamos lamentar sobre como o tempo passa, mas como, realmente, passa o tempo? Com que bobagens tenho perdido meus dias? Estou aproveitando o que tenho de bom agora? Tenho planos para o futuro? Tenho algum propósito? O que eu gostaria de fazer que ainda não fiz? 

Essas são algumas das reflexões a que me coloquei durante o feriado, sem respostas concretas ou cirúrgicas. Algumas, no entanto, já puderam me direcionar para pequenas mudanças de atitude ou esforço mental, para evitar martelar em cima daquilo que, no futuro, não será determinante, ou sequer terá qualquer relevância na minha vida. 

Quando paramos por algum tempo para organizar as ideias, geralmente atabalhoadas pelo cotidiano afoito, estamos, fundamentalmente, buscando um lugar mais adequado e uma maneira melhor de vivenciar as experiências. Recomendo esse pit stop eventual na vida. 

Foto: Andrea De Santis

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