As contradições do ministro

As contradições do ministro

“Você chama de violentas
as águas de um rio,
que tudo arrastam,
mas não chama de violentas
as margens que o aprisionam.”

O que esse texto de Bertold Brecht te faz pensar? A mim, vem sempre essa questão dos lados. Da relatividade de tudo que concerne ao humano, da maneira como vemos o mundo, como ele nos impacta e o que entendemos sobre o outro. E se me aprofundo e entendo que existe outro dentro de mim (aquilo que os psicanalistas chamam de inconsciente), são tantas vozes dissonantes que fica muito improvável viver em paz. A área que escolhi para atuar, o jornalismo, tem como premissa ouvir os lados. E quando não se consegue entender o que o outro diz ou tenta dizer?

Tudo isso para falar sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e seu discurso na última semana que tinha como objetivo acalmar o “mercado”. Que coisa mais melancólica ver um homem rico, branco (não deve ter vivenciado problemas na nossa sociedade), que teve a oportunidade de ter uma educação primorosa, certamente conviveu com pessoas esclarecidas, poderia até afirmar que teve o que chamamos de uma vida boa, passar por um vexame nacional de tentar explicar o inexplicável. Até aonde o discurso ficará dissociado do mundo real no nosso país? Como é que alguém que estudou tanto os conceitos da economia pode não se responsabilizar pelos seus atos, por ações que impactarão a vida de milhões de pessoas e que vai empobrecer ainda mais um povo tão sacrificado? Além das palavras vazias eu penso: onde está a consciência desse homem? Por que não se juntou ao que ele chamou de mais jovens que preferiram pedir demissão e foi para casa vivenciar a sua família?

Se ele tinha um plano de melhorar as contas do país (na crença dele, na política econômica que ele julgava mais adequada para o país, todo mundo já sabe que o presidente a quem ele serve já desistiu desse plano), não conseguiu convencer a esses que estão no poder do seu projeto de melhorar as contas. Se fosse dar um conselho ao ministro, eu diria: preserve a sua biografia. Não existe nenhum projeto de poder que resista a essa vergonha de jogar o país nessa aventura da inflação, que prejudica a todos, mas pesa de maneira mais aflitiva os mais pobres. É tão constrangedor ouvir um discurso tão dissociado da realidade. A mídia conseguiu mensurar o nível de confusão do discurso do ministro que até acalma o dólar, a bolsa, mas ainda assim, o que se assiste é apenas um show de horrores. Como disse o Eduardo Cunha (aquele que ficou preso por inúmeros crimes contra o erário público): que Deus tenha misericórdia da nossa alma! 

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