Contrato assinado
Inquieta, aqueles que me conhecem de perto sabem que sou, estou sempre em busca de novos desafios. Um dos primeiros que encarei, inclusive, foi a criação, não sozinha, de uma revista sólida em Ribeirão Preto — esta que você tem em mãos. A ela, dediquei boa parte do meu trabalho e antes que eu pudesse perceber, lá se foram mais de 27 anos. Agora, ao me distanciar um pouco para encarar uma nova função, tenho certeza de que todo o esforço valeu a pena.
Muitos conhecidos e desconhecidos ainda me perguntam por que aceitei assumir o comando da Secretaria de Infraestrutura e, mais recentemente, da Coordenadoria de Limpeza Urbana. A resposta é simples e objetiva: estou disposta a dar uma contribuição mais efetiva, ou pelo menos a tentar, para a construção da cidade que desejo para viver. Essas novas experiências me levaram a enxergar a administração pública sob uma nova perspectiva. De cidadã e profissional da imprensa, passei também a integrar o time de quem planeja, decide e realiza. É uma miscelânea de todos esses pontos de vista que passarei, a partir desta semana, a compartilhar nesse espaço.
Leitora eclética, foi nos livros que busquei respostas para grande parte dos meus questionamentos. E nos últimos meses, refletindo sobre as responsabilidades inéditas assumidas, resgatei na memória, entre muitos autores, teóricos como Thomas Hobbes e John Locke. Guardadas as devidas diferenças, os dois se ocuparam em estudar o chamado contrato social, ou o contratualismo, que tenta explicar os caminhos que levam à formação dos estados e da vida em sociedade. Um absolutista e outro defensor do estado civil, ambos afirmam que as pessoas acabam abrindo mão do que chamam de “estado de natureza” para obter os benefícios da ordem política.
Essa postura não deixa de ser, também, uma condição inerente ao ser humano, que não tem razão, ou não deveria ter, para viver guerreando por sua liberdade e interesses plenos. Se agisse dessa forma, provavelmente, estaríamos mais próximos da idade da pedra do que estamos hoje, em um século XXI marcado pela globalização e pelo rompimento de barreiras geográficas.
Mas na contemporaneidade, este contrato social precisa ser assinado por todos os envolvidos: aqueles que formam o governo precisam se comprometer com o bem coletivo acima de todo o resto, mas este também deve ser o compromisso de cada cidadão. É dever de todo indivíduo posicionar-se e assumir a parcela de responsabilidade que lhe cabe na construção da sociedade desejada.
E isso tem muito mais a ver com a ação do que com o discurso. Não jogar o lixo na rua não representa apenas uma postura social e ecologicamente correta, mas também é um compromisso com o próximo. É adquirir o pleno direito de exigir uma cidade cada dia mais limpa e digna, em todos os sentidos. Este contrato, eu assinei.
Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto.