Costuras no tempo

Costuras no tempo

Em um dos últimos feriados, fui consumida pelos 17 episódios de uma série espanhola disponível pela Netflix. Comecei a maratona em frente à TV, pela manhã, quando terminei já era madrugada. De uns tempos para cá descobri nos seriados uma distração prazerosa, que me tira, por alguns momentos, das preocupações intensas e cotidianas e que me transporta para outra realidade que me entretém. 

Talvez, “O Tempo Entre Costuras” tenha sido a série que mais me impactou e me prendeu a atenção desde que passei a acompanhar essas produções com frequência. Acredito que precisamos estar abertos para absorver o que é novo e eu estava em um momento favorável a isso. Além de tudo, realmente há coisas que nos acertam em cheio.

A série é baseada em um livro da escritora María Dueñas, que já havia sido muito bem recomendado por uma querida amiga, mas que nunca tive a oportunidade de ler por completo. A obra conta a história de Sira Quiroga, uma costureira que vive em Madri e, um dia, apaixona-se perdidamente por um comerciante. Ela parte, então, ao Marrocos, para acompanhá-lo, meses antes da Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939. 

Por uma série de razões que não vou detalhar aqui para que você não perca o interesse em assistir (porque vale a pena), Sira se transforma em uma informante durante a Segunda Guerra Mundial e, com nova identidade, passa a trabalhar para os ingleses, recolhendo informações sobre os alemães.

Por incrível que pareça, em meio a tanto conflito, a atividade que ela desempenhou não foi o que mais me chamou a atenção. Foi a maneira como ela se relacionava com as pessoas à sua volta que me fez refletir. Fiquei impactada com a intensidade com que ela se dedicava aos mais próximos. Achei impressionantes as inúmeras tentativas de ajudar quem ela queria bem, de alguma maneira, até mesmo quando a ajuda entrava em conflito com as atividades que exercia. 

Também me emocionei com a relação entre Sira e sua melhor amiga, Rosalinda. As duas se conhecem no ateliê, a empatia é imediata e elas constroem uma amizade bonita de ver. Em determinado momento, são forçadas a estabelecer certo distanciamento e o que se vê é um amor puro e intenso entre duas pessoas que se querem muito bem, mesmo quando não podem estar perto uma da outra.

Pensei sobre quantas vezes na vida encontramos pessoas com as quais nos identificamos profundamente. Quem se torna importante em determinado momento de nossa história e que pode, algum tempo depois, deixar de ser. Quantas pessoas queremos que permaneçam, quantas não fazemos questão. Quantos afetos perduram e quantos desencontros superamos pelo amor que sentimos pelo outro.  

Particularmente, não acho que tenha tido tantas relações intensas, como a de Sira e Rosalinda, ao longo da minha vida. As que tenho hoje, faço grande esforço para manter. Ter amigos é praticar a generosidade e querer bem acima de tudo, nos nossos melhores ou piores dias, porque eles sempre vêm e vão.

Às vezes, levamos uma vida inteira para encontrar alguém parelho, com quem gostamos de estar. E se tem algo que as personagens me mostraram é que é muito mais fácil atravessar a vida se temos alguém com quem compartilhar as alegrias e as tristezas de toda a jornada. 

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