Criatividade no combate ao crime

Criatividade no combate ao crime

Órgão permanente instituído, organizado e mantido pela União, ninguém discute a importância da Polícia Federal. Está entre as competências da PF apurar infrações penais contra a ordem política e social, em detrimento de bens, serviços e interesses do país ou de entidades autárquicas e empresas públicas, entre outras infrações penais de repercussão dentro e fora das fronteiras brasileiras. Contrabando e tráfico de drogas também são constantes no radar da PF, que ainda exerce as funções de polícia judiciária da união, marítima, aeroportuária e de fronteiras, entre outras.

Até pela relevância das funções que desempenha, as operações do órgão, não raras vezes, vão parar nos principais noticiários, como acabou de acontecer com a Operação Catilinárias, uma fase da Operação Lava-Jato que estende as investigações de corrupção e lavagem de dinheiro e que expediu mais de 50 mandados de busca e apreensão esta semana, inclusive dirigido ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). O nome desta etapa foi inspirado na série de célebres discursos do senador grego Marco Túlio Cicero, pronunciados em 63 a.C, com a intenção de denunciar explicitamente Lúcio Sérgio Catilina que, junto com seus parceiros, planejava um golpe para tomar o poder e enriquecer, já que estava falido.

Passados mais de 2000 anos — e graças à relação que o nome da operação da Polícia Federal sugere — as frases de Cicero, que podem ser facilmente encontradas na internet, parecem, realmente, definir o atual momento político brasileiro, em que a corrupção e o direito (ou não) ao poder estão no centro do debate.

Sem a intenção, ou pretensão, no entanto, de fazer qualquer espécie de juízo de valor político, o que eu gostaria de destacar, diante das Catilinárias da Polícia Federal, é a criatividade empenhada na nomeação das operações que empreende. De maneira intencional ou não, o fato é que a forma com que intitula esses trabalhos potencializa a repercussão das operações junto à mídia e às redes sociais, movimentando a opinião pública.

Em cada novo trabalho, uma referência diferente, desde o pensamento de filósofos romanos e afins, passando pela literatura brasileira, até o cinema norte-americano. Este ano, pode-se dizer que a Lava-Jato, que veio a público pela primeira vez em 2014, e seus desdobramentos tenha ocupado boa parte da força de trabalho do órgão — pelo menos, é o que se vê no relatório de operações da PF. O nome desta macroinvestigação se baseia na utilização de uma rede de lavanderias e de postos de combustíveis para movimentar recursos provenientes da corrupção. Dela, somente este ano, surgiram, entre inúmeras outras, as operações My Way (a música de Frank Sinatra nomeia a 9ª fase da Operação), A Origem (11ª etapa, que investiga indícios de irregularidades em contratos publicitários), Politeia (que teve políticos no centro da pauta, cujo nome faz referência à obra de Platão) e Pixuleco I e II (nome inspirado em uma espécie de apelido ao dinheiro vindo da corrupção). 

Infelizmente, esses são apenas alguns dos exemplos possíveis de nomes de operações da Polícia Federal. Há outros tantos, que ajudam a tornar claro que ainda existe um longo caminho a percorrer na direção de uma política brasileira mais transparente e, principalmente, comprometida com a coletividade. O lado positivo que se pode vislumbrar é que as investigações têm tido desdobramentos importantes que, tomara, possam coibir ações de corrupção em um futuro próximo. Assim esperamos. 

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