Decidir para começar

Decidir para começar

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.” O trecho acima, que traduz com precisão aquilo em que acredito, é assinado pela poetiza e contista goiana, Cora Coralina.

A minha primeira reflexão do ano vem carregada de dúvidas, mas, principalmente, de uma certeza: a nossa poetisa está certa. O que mais nos faz sofrer é a decisão, porque quando temos certeza do que queremos, aonde pretendemos chegar, o caminho se torna muito mais leve. No começo do ano, parece que tudo fica mais à flor da pele e a busca por algumas certezas é o que vai nos empurrando para frente.

Percebo que o mais difícil é mesmo compartilhar decisões, dizer ao outro o que queremos, o que sentimos e por que estamos agindo de determinada maneira. Para isso, é preciso prestar atenção naquele que está ao nosso lado. E o outro pode ser aquele nosso vizinho que mal cumprimentamos ou aqueles que nos são mais caros. A vida cotidiana tem a capacidade de ir deixando essas pessoas, tão importantes, quase invisíveis e ficamos esperando que elas descubram o que acontece no nosso mais íntimo ser. Mas, quando nos damos conta, cada um leva seus sonhos embalados na mais pura solidão. E quando realmente prestamos atenção, o desamor já tomou conta das nossas relações.

Na minha vida, tenho tentado ser verdadeira, inteira em tudo que faço. Quando me percebo sendo levada pelas circunstâncias, sem nenhum controle sobre as decisões, a angústia se instala e os caminhos se fecham. Sempre acreditei que o melhor da vida é o momento que vivemos, nunca gostei de criar expectativa para o futuro, de acreditar que quando conquistar uma coisa ou outra, aí sim, poderei ser feliz. Acho que a vida é o hoje, a experiência do agora.

É como lembrar do gosto de algo da infância, ou aquele cheiro que nos lembra coisas boas: ficará marcado na nossa alma para sempre. Guimarães Rosa lembra que a felicidade se acha naquelas “horinhas de descuido”. Muitas vezes são essas horas que nos fazem continuar e, quando nos damos conta, lembramos o quanto aquilo foi bom.

Ao começar este ano, entre as várias decisões sobre o que fazer, sobre como realizar os sonhos, gostaria de compartilhar algumas ideias. Feridas, dores? Nada que o tempo não consiga curar — pode até ser em doses homeopáticas, mais uma oportunidade para praticar algo difícil nos dias de hoje: a paciência. Esperar.

Há que se participar mais da vida do nosso município. Acredito que, pior do que a violência das pessoas ruins, a mais cruel das reações àquilo que não vai bem é o silêncio e a indiferença das boas pessoas. Ficaremos atentos ou nos manteremos apáticos diante da vida que pulsa em cada canto da nossa cidade?

Por fim, o mais importante é não nos arrependermos do que fizemos, pois a experiência do vivido é a única e verdadeira responsabilidade só nossa. Fazer o que está ao nosso alcance, mesmo que, ao final, não tenha saído como queríamos, já é uma decisão fundamental e, por isso mesmo, um bom começo.

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