Desenvenenar

Desenvenenar

Seria essa a palavra do momento, se me perguntassem a melhor expressão para descrever o que passa o Brasil. Desenvenenar. Nos meus anos de jornalismo, uma profissão de fé, nunca presenciei esse ódio ao contraditório. Sempre soube (e todos nós sabemos) que discordar não é o mais agregador dos comportamentos. Em geral, não se conquista os outros com a discordância, mas, hoje, além de não atrair amigos, a discórdia também cria inimigos.

Intuitivamente, desenvenenar pode ser definido como “tirar o veneno”. Tenho convicção de que expelir o ódio e eliminar os maus sentimentos pode nos trazer relações pessoais mais saudáveis e uma vida menos carregada.
Quem me conhece sabe que a empatia é uma das ações que mais busco praticar. É tentar sentir com e pelos outros, compartilhar problemas e soluções, se colocar no lugar de quem passa por alguma dificuldade ou faz alguma crítica. Empatia é olhar para o próximo com olhos de identificação, buscar um sentimento comum.
Acho que temos de ir além. Precisamos ter leveza para encarar os problemas e as dificuldades do dia a dia. Não podemos encarar os desentendimentos de forma intransigente, sem aceitar as diferenças. É preciso treinar nosso olhar.

Esses dias li uma reportagem sobre os efeitos que as emoções negativas têm em nosso corpo. O cientista e filósofo Steven Parton examinou como esses sentimentos, tanto expressos por nós quanto pelos outros, podem afetar nosso cérebro e provocar consequências. A teoria sugere que a negatividade e a reclamação transformam nossa mente.

A linha do estudo é basicamente a produção do “mais do mesmo”: se reclamamos ou somos negativos, nossa cabeça tende a reproduzir as mesmas sensações e sentimentos. É uma bola de neve, um ciclo que não tem fim.
Por isso, por mais difícil que seja, em um momento de nervos à flor da pele, com ânimos acirrados no atual cenário político, é preciso exercitar a empatia e a leveza. Esses são dois bons antídotos para as relações tóxicas que se constroem com base no ódio e na intolerância. 

O lado bom de tudo isso (para exercitar o otimismo ainda no texto) é que todos os estudos sobre o sistema neurológico mostram que o cérebro se adapta a mudanças e, o tempo todo, se recria e se regenera. Isso significa que mudar de comportamento é possível. Naturalmente, não será fácil. Se exercitarmos um olhar mais leve e buscarmos a empatia com o outro, nossa cabeça pode dar continuidade a toda a mudança. A meta é fazer nosso cérebro produzir mais do mesmo: mais leveza e mais compaixão. Talvez seja esse um bom caminho para desenvenenarmos os dias de hoje. 

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