Dormir bem

Dormir bem

Nesta semana, um assunto bem prosaico me chamou a atenção e, por incrível que pareça, fez com que eu decidisse compartilhar reflexões aparentemente bem simples por aqui.
Desde pequena, sempre me destaquei por ser uma pessoa que dorme pouco. Fiquei conhecida por pessoas próximas como aquela que gosta de acordar cedo e com um excelente humor, embora essa felicidade matutina seja motivo de controvérsia, já que muitos acordam de cara fechada. Também nunca fui de dormir muito cedo, porque, desde criança, gostava de aproveitar bem o dia e sempre achei que a vida é muito curta para perde-la dormindo.

De uns tempos para cá, porém, comecei a dormir muito mal e resolvi pensar sobre o assunto, tentar elencar os motivos que pudessem ter prejudicado meu sono e como melhorar o cenário. É impressionante o que uma boa noite de descanso é capaz de fazer pela nossa saúde e o nosso humor.

Segundo especialistas, o sono nos recupera de todas as mazelas do dia e reorganiza os nossos hormônios. Sim, os benditos hormônios que parecem estar no controle das nossas vidas. De fato, uma importância incontestável, que nos faz ansiar pelo repouso noturno, especialmente depois de dias exaustivos.

 No meio disso tudo, uma pergunta me fez refletir: afinal, como relaxar em tempos tão sombrios, quando tudo parece tão cinza e os problemas do dia passam a noite nos acompanhando? O sono teima em não chegar. Os pensamentos e as preocupações insistem em reaparecer, mesmo depois de terem tomado conta da rotina sob a luz do sol. Às vezes, parece que não é suficiente lidar com nossos obstáculos enquanto está claro.

Tenho a impressão de que em tempos difíceis é muito comum que as pessoas durmam menos, justamente por levarem para o travesseiro uma cabeça pesada e preocupada com o que não ficou resolvido até a hora de dormir. A consequência desse desalinhamento pode ser desenhada como uma bola de neve: mais mau humor e menos produtividade. Mais noites mal dormidas. 

Fiz o que sempre faço nesses casos em que a cabeça tende a borbulhar de pensamentos: apelei para as pesquisas. Não foi surpresa descobrir que o filósofo grego Aristóteles já se preocupava com esse assunto. No ensaio "Sobre o sono e a vigília", ele já se questionava sobre o que exatamente fazemos quando dormimos. Pensei no que teria feito o filósofo buscar esse assunto em 350 a.C,   tantos anos atrás. 

 Certamente, naquela época, o comportamento durante a noite e o que exatamente o corpo fazia no sono já era um mistério e alvo de investigação dos pensadores. Isso tudo, inclusive, em uma época que não existiam tantas tentações para deixar nosso cérebro tão em alerta quanto hoje: celulares, computadores, tablets... Uma conexão em excesso que nos deixa ligados e com muito mais dificuldades para relaxar.

 Aristóteles sabia, há tanto tempo, que o que hoje tratamos como um problema dos tempos modernos já era uma questão a ser discutida e analisada. Nós, seres humanos, vemos e encontramos preocupações em todos os cenários e contextos em que habitamos. Fato é que as preocupações, à medida que nos incomodam, também são objetos de valorização de nossa existência: resolver algum problema nos faz úteis e importantes em determinadas situações.

 O que talvez precisamos ensinar ao nosso cérebro é que, durante a noite, pouquíssimas coisas podem ser resolvidas e tudo o que pode ser feito no dia seguinte está intimamente ligado à qualidade do nosso descanso. Quanto melhor a noite, melhor o dia — ainda que este seja um dilema humano secular e sem receita universal para uma solução. 

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