
É propaganda eleitoral, mas parece ficção
Não poderia deixar de ser. O período eleitoral está aí, as propagandas na TV começaram, e o que se vê é mais do mesmo na maior parte do tempo.
Depois de passar quase dois anos na Administração Municipal como secretária da Infraestrutura, de Governo e Coordenadora de Limpeza Urbana, tenho a convicção de que a maior parte do que se fala, e das promessas que aparecem, é dissociada da realidade. A impressão que dá é que os candidatos falam de uma cidade diferente, onde não há uma dívida de cerca de R$ 300 milhões. Parece que eles não têm ideia do que podem, de fato, fazer se forem eleitos. A realidade interna do poder público de Ribeirão Preto não tem nenhuma semelhança com os discursos que começam a aparecer nessas eleições.
Entre as quatro paredes do Palácio Rio Branco, as dificuldades são maiores do que se pode imaginar — e os obstáculos mais difíceis do que podemos perceber. Fato é que ao mudarem as peças do jogo, ou os jogadores, teremos, ao menos, uma esperança de mudança na realidade, de melhor organização na prestação dos serviços públicos e uma condução política diferente. Ainda assim, o próximo prefeito de Ribeirão Preto encontrará pela frente alguns resquícios da atual gestão que podem prejudicar o cumprimento das promessas — e até as expectativas dos candidatos.
Quando me comprometi a tapar os buracos da cidade, assim que entrei no Governo Municipal, não imaginava o que encontraria pela frente. Precipitei-me ao dizer que acabaria com o problema em alguns meses. Talvez tenha feito isso justamente por não dimensionar as dificuldades internas. Hoje, tenho convicção de que esse deveria ser o maior desafio dos postulantes a prefeito: fazer promessas que se adequem à situação orçamentária da Prefeitura. Até agora, não vi propostas reais, inseridas no contexto financeiro.
O resumo da ópera é: falta dinheiro. Falta dinheiro para contratar dezenas de pessoas para fazerem atendimento e agendamento na saúde, falta dinheiro para acabar com os buracos, falta dinheiro para novas escolas e creches e falta dinheiro para oferecer tablets para professores e alunos. Conhecendo os números da Prefeitura — o que pode ser feito nas páginas da própria Revide — posso afirmar que não existe a possibilidade de fazer grandes investimentos diante de uma folha de pagamento que consome mais de 50% do orçamento municipal. Aliás, com essa realidade, como acreditar nas promessas de contratação de mais funcionários públicos?
O primeiro passo, depois de subir as escadas, precisa ser de análise do cenário. Pouco pode ser garantido com o panorama de dívidas que a Administração Municipal contraiu. É preciso analisar as contas, enxergar de perto os números e tomar medidas duras, mas necessárias, de contenção. É preciso otimizar os gastos e reduzir despesas. Aquele famoso remédio amargo necessário para curar. Como construir creches e escolas, se é preciso contratar professores e não há recurso para isso? Como inaugurar mais unidades de saúde, se não há verba para a contratação de médicos?
Acredito que com todas as mudanças pelas quais atravessa o País, o que podemos perceber é que o eleitor está mais atento — ou pelo menos parece estar. O que nós esperamos é que essa atenção tenha reflexo nas urnas. Precisamos reagir diante de uma realidade nem um pouco animadora. Precisamos cobrar dos candidatos as propostas que, de fato, podem ser realizadas. Até agora, pelo que vi, não são só as produções para a TV que estão cheias de efeitos especiais, mas as promessas também parecem um grande cenário de ficção.