Em busca dos aguerridos

Em busca dos aguerridos

A cada semana, penso, repenso e penso de novo no assunto que pode pautar esta coluna. Escrever sobre algo novo e minimamente interessante a cada sete dias não me é tarefa fácil, ainda mais porque muito utilizo este espaço para refletir sobre temas que, de fato, têm importância em minha vida. Às vezes, questiono se o que é relevante para mim também é para o outro, mas aprendi, ao longo dos últimos quatro anos em que escrevo, que sempre é possível compartilhar sentimentos e ideias, ainda que nem todos nós pensemos da mesma maneira.

Evito tratar de casos específicos a cada semana, mas as sensações que os acontecimentos me despertam são, em geral, motivo de reflexão. Tenho essa mania: penso sobre tudo o que me acontece e tento tirar alguma conclusão ou lição das alegrias e das tristezas da vida.

Ultimamente, muito em função do momento em que vive o país e a falta de perspectiva que nos assola, tenho pensado sobre a dificuldade de encontrar gente realmente comprometida com o que faz, que goste da tarefa que desempenha e que tenha vontade de liderar. Não pelo status de autoridade em si, mas pelo desejo de encabeçar algum projeto ou atividade que tenha importância e significado.

De antemão, e a partir de três décadas à frente da Revide, posso garantir que não é fácil. Não sou referência nacional em empreendedorismo, mas qualquer empresário, seja pequeno ou grande, que tente investir e prosperar neste país precisa estar preparado para muitos desafios e obstáculos pelo caminho. Nem sempre o terreno é fértil e a viabilidade não é vista de cara. É preciso buscar os caminhos mais adequados e insistir, por mais difícil que pareça.

Pesquisando algumas referências sobre essa insistência necessária e essa vontade de mudança, encontrei a história de João Carlos Leite, nascido em São Roque de Minas, que havia saído da cidade para estudar agronomia e voltou para casa, no início da década de 90. Naquela época, havia apenas um banco na cidade, situado em uma região tradicionalmente humilde de Minas Gerais. Em determinado dia, a agência da Minas Caixa decidiu fechar as portas por falta de movimento financeiro que justificasse a permanência ali. 

Naturalmente, foi um duro golpe para a população: pagamento de contas, compensação de cheques, negociações e o que mais fosse necessário na economia da cidade ficaram comprometidos. Moradores começaram a deixar o município e a perspectiva não era das melhores. Foi aí, então, que João Carlos, aos 26 anos, decidiu propor a criação de uma cooperativa de crédito em substituição ao banco. Era uma tentativa no meio do nada, que parecia ter poucas chances de vingar, mas deu certo.

Em um terreno, à primeira vista, improdutivo, nasceu a oportunidade de mudança, que realmente aconteceu. São Roque de Minas emergiu e hoje prospera em uma economia estável, muito em razão de uma atitude corajosa e arriscada, que funcionou, apesar dos prognósticos não terem sido favoráveis – porque nem sempre (aliás, quase nunca) eles são.

Difícil, em meio a tanta incerteza do Brasil, encontrar quem se disponha a arriscar e chamar a responsabilidade para a mudança, para a ação, como João Carlos. Nesses tempos, os aguerridos parecem rarear, mas são exatamente eles que fazem a diferença nas horas mais difíceis e nos lugares mais inóspitos. Não tenho dúvidas de que são eles, juntos, que podem mudar a realidade. 

Foto: Descubra Poços de Caldas

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