Enquanto houver histórias

Enquanto houver histórias

Fui convidada para participar no 3º Summit de Comunicação, organizado pela Associação Brasileira de Indústria Gráfica (Abigraf), para debater os caminhos da mídia impressa, no próximo dia 8 de novembro. Para a minha colaboração, o tema proposto pelo evento é a importância da revista impressa na comunicação informativa. 

Quando recebi o convite e a proposta do assunto, comecei a pensar sobre o que eu poderia levar de novo, animador e diferente aos participantes, em um momento tão nebuloso para o mercado da mídia impressa.

É fato que as incertezas econômicas e políticas incomodam a todos os empresários e gestores, em qualquer que seja o setor de investimento ou de trabalho. No nosso caso, especificamente, a grande questão é enfrentar diversas crises ao mesmo tempo, começando pela financeira e terminando pela crise dos meios de comunicação — será que o papel vai acabar em um futuro próximo?

 Essa é, geralmente, uma pergunta frequente. Talvez por eu estar há mais de 30 anos batalhando no mercado das revistas, muitos me questionam sobre essas imprevisibilidades. Querem saber se acho que o livro e os jornais acabarão, afinal, parece que o mundo todo se tornou digital.

Quando penso nessas mudanças, no primeiro momento, sempre me vem à cabeça o que aconteceu com o rádio quando surgiu a televisão ou o cinema, que muita gente acreditou que acabaria com a popularização da TV. Nada disso aconteceu.

Por essas referências históricas de transformação, eu poderia apostar que há espaço para todos, cada um à sua maneira e no seu formato, passando por algumas repaginações. Em minha avaliação, certamente teremos menos títulos e será preciso encontrar caminhos diferentes, além de formar novos leitores. É um momento único na história da humanidade, com profissões e disrupturas que nunca pensamos que poderiam existir.

A alma do jornalismo são as histórias. Histórias de pessoas, de cidades, de países, de transformações. Histórias do mundo que tem se mostrado a própria metamorfose. Tenho convicção de que sempre teremos essas boas histórias para contar, por diversos meios. A ferramenta que escolhi foi a revista, que pode se apropriar do digital para se modernizar e amplificar sua mensagem. É o que estamos fazendo na Revide, a exemplo de grandes veículos de todo o mundo. 

Não acho que o papel terá um trágico e repentino fim. Creio que os veículos impressos têm certa sobrevida, desde que se posicionem de maneira diferente e inovadora. Acredito que o mercado mudará, que a mídia reproduzida em papel será menor, mas também poderá ser mais valorizada. Tudo isso vai depender do comportamento dos leitores, de como a humanidade vai se organizar, mas, sobretudo, da maneira que a imprensa irá buscar novas saídas.

No final do ano passado, duas notícias vindas do Hemisfério Norte animaram o mercado da comunicação e a surpresa é de que ambas surgiram do mercado virtual. O Financial Times, da Inglaterra, bateu o recorde de 900 mil assinantes, com um detalhe: cerca de 700 mil deles digitais. Nos Estados Unidos, outra surpresa positiva com o Washington Post, que ultrapassou a marca de 1 milhão de assinantes exclusivamente on-line. São luzes no fim do túnel.

Acho fundamental descobrir as tendências do mercado,  entender o que o público quer ler, mas também acredito que podemos oferecer novidades e formar novos gostos e leitores, praticando e oferecendo a boa informação.

Ironicamente, em um mundo cada vez mais individualista, também vivemos a erados maiores compartilhamentos, com tantos aplicativos e redes sociais que permitem a interação entre todos nós. O conteúdo está livre e disponível. Nós é que precisamos nos adaptar e nos reinventar. Em tempos tão incertos, consigo ter pelo menos uma certeza: enquanto houver histórias, haverá jornalismo. Seja pelo meio que for. 

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