
Entre o plantio e a colheita
Não luto contra o passar do tempo. Esta é uma batalha inglória, porque bem sabemos como termina. O tempo passa, a vida muda, perdemos e ganhamos ao longo de nossa história, erramos e aprendemos. Mesmo sabendo de tudo isso, acho inevitável avaliar, a cada aniversário, a passagem do ano. Tenho feito essa avaliação durante os últimos dias, quando me aproximo de mais uma dessas comemorações, nesta primavera, minha estação preferida.
Não posso negar que brigo bravamente para não perder o entusiasmo e a vontade de viver mesmo ficando mais velha. Tento manter o mesmo pique, sempre. Gosto de festas, de comemorar cada passagem de ano, cada aniversário. Os amigos mais próximos bem sabem que não deixo a data passar em branco, mesmo que seja apenas em família. Acho que é uma forma de agradecer a Deus, ou a qualquer força do infinito que nos mova, por estar viva e bem.
Neste ano, porém, não posso negar que o clima do País tem desanimado as comemorações. Muitas vezes, escrevi aqui sobre não deixar o mau humor nos contaminar e seguir adiante com criatividade e vontade de fazer a diferença.
Fato é que essa postura requer esforço e talvez uma força que o próprio tempo nos traz. Dar tamanho às coisas é algo que tenho feito com certa frequência. Procuro avaliar o que realmente faz diferença em minha vida, o que vale a pena, o que me faz levantar todas as manhãs e continuar a trabalhar.
Achamos o tempo cruel, mas talvez ele seja o melhor professor que teremos em toda a vida. É o tempo que nos faz perceber pelo que de fato devemos nos incomodar. A cada ano que passa, os pesos mudam, a equação fica diferente. Ser feliz passa a ter mais a ver com estar bem consigo do que com os outros. E estar bem consigo passa a estar diretamente ligado ao que fazemos. Como dizem, o plantio é opcional, a colheita é obrigatória. Em certo momento da vida, chega a hora da colheita, mas isso não significa que o plantio terminou. Dá tempo de plantar, sempre.
Hoje, sou feliz com a avaliação que faço de minha colheita às vésperas de mais um aniversário, mas também sigo disposta a continuar plantando. O entusiasmo vem daí, da vontade de continuar a tentar, errar e acertar, com a plena consciência de que fiz e faço tudo aquilo que posso fazer para ter uma vida plena, construída, basicamente, a partir de dois pilares: honestidade e integridade.