Entre um café e o futuro

Entre um café e o futuro

Tomei um café agradável com a Dona Nádia na última semana, entre um papo e outro sobre o futuro. Foi um encontro rápido, muito em razão da insistente rotina acelerada que teima em não me abandonar, mas o suficiente para nos fazermos ouvir. 

Quero contar, antes, como nos conhecemos. A Dona Nádia tem 86 anos e é leitora da Revide. Semanalmente, acompanha a nossa revista e me disse que lê estas Reflexões do Cotidiano com frequência. Um dia desses, ela resolveu me enviar um e-mail, embora tenha se perguntado várias vezes se deveria, como me confessou. Queria tratar de um assunto que muito consome seus pensamentos e adoraria trocar figurinhas sobre suas ideias. Marcamos um café e nos encontramos. 

A preocupação da Dona Nádia é legítima e até generosa. Ela sabe que talvez sua ideia não seja colocada em prática tão brevemente a ponto de ela mesma usufruir, mas acredita que pensar em alternativas para a acomodação dos idosos é questão urgente. De fato, é importante. 

Ao longo dos anos, temos envelhecido mais e melhor, ainda que diante de alguns percalços. O Brasil tem se tornado um país de idosos e essa população aumentarar nos próximos anos. A polêmica Reforma da Previdência traz à tona questionamentos que realmente devem nos preocupar: uma sociedade com cada vez menos jovens e mais cidadãos dependentes do sistema previdenciário se sustentará sobre quais bases?

A ideia de Dona Nádia é que esses idosos, especialmente aqui em Ribeirão Preto, tenham um lugar de convívio, uma espécie de condomínio em que possam compartilhar alguns momentos e áreas comuns. 

A consideração dela é legítima e o envelhecimento está, invariavelmente, ligado aos cuidados. Quem não tem filhos, teoricamente, não tem alguém na linha hereditária para o amparo futuro. Aqueles que os têm também se questionam sobre o “fardo” que podem se tornar e preferem buscar caminhos que não ofereçam preocupação à família. Tudo se torna mais difícil na solidão.

Existem iniciativas como a Vila Dignidade, um projeto do Governo do Estado que abriga 18 idosos em Ribeirão Preto. Há também as casas de repouso, com cuidados 24 horas, mas que não podem ser pagas por todos os idosos. O que ela sugere são pequenos bairros que possam abrigar os moradores da terceira idade.

Fato é que não existe fórmula correta e fechar os olhos para o nosso futuro não me parece das decisões mais acertadas. Em um país cuja população tem envelhecido, é fundamental pensarmos em políticas públicas — e até iniciativas privadas — que possam conferir alguma fresta de um futuro mais acolhedor.

Dona Nádia está com a razão ao planejar o seu amanhã e mais certa ainda ao pensar nos outros – até mesmo em quem não precisa de alguma alternativa imediata. Afinal, não seria realmente aprazível um espaço em que os idosos pudessem conviver e se entreter conjuntamente, em momentos menos solitários no ocaso da vida? 

Nenhuma boa ideia sai do papel da noite para o dia e é preciso planejamento para que grandes projetos sejam colocados em prática com consistência, mas todos sabemos que isso só acontece se alguém dá o primeiro passo. Talvez, nesse caso, esse primeiro passo tenha sido dado pela Dona Nádia. Eu torço para que sim. 

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