Equilíbrio essencial

Equilíbrio essencial

Para retratar a forma como eu vejo a mulher e sua evolução nas mais diversas áreas, faço uma análise e uma retrospectiva da minha própria história. Quando cheguei em Ribeirão Preto para estudar Jornalismo, com 18 anos, já era normal as mulheres buscarem seu próprio espaço no mercado de trabalho. Em 1986, quando, junto com outros estudantes de jornalismo, decidimos fazer uma revista, o caminho estava livre. Não senti nenhum tipo de preconceito para desenvolver esse trabalho. Naquela época, tudo para mim ainda estava na esfera dos sonhos, mas já, no começo da década de 90, eu me vi obrigada, por força das circunstâncias, a migrar do Jornalismo para a Administração. Foi preciso aprender a criar mecanismos para a sobrevivência daquele negócio ainda incipiente. Mesmo assim, não senti preconceito; nem por ser mulher nem por ser jovem.

Esse foi o cenário em que desenvolvi toda a minha trajetória profissional. E posso assegurar: o panorama para nós, mulheres, tem evoluído ano após ano. Entre muitas evoluções que observei, o comando político na mão das mulheres é uma das que merecem destaque. O Brasil tem uma mulher na presidência, o Chile também, e a Alemanha tem uma chanceler. Essa realidade não está restrita somente à política. A mulher também se destaca no mundo dos negócios — muitas hoje ocupam os cargos mais altos nas empresas —, destaca-se, ainda, na literatura, na música, nas artes plásticas e em várias outras áreas. Isso me faz pensar que, mesmo com algumas questões ainda a serem resolvidas, como a igualdade de salários, por exemplo, a discussão do gênero já não é mais a questão.

O caminho agora é a reflexão acerca da mulher como mãe, como esposa, ou seja, o seu espaço no mercado de trabalho já está garantido, mas o que precisa ser revisto é a retomada para a família. Para realizar as conquistas que as trouxeram até aqui, foi preciso sacrificar sua vida pessoal , como os homens também, e, agora, há uma necessidade por buscar o equilíbrio entre as partes. Em Ribeirão Preto, vejo muitas mulheres notáveis — na política, no jornalismo, na administração de grandes empresas —, mas acredito que, em pleno século XXI, muitas delas podem passar por esse dilema. Isso só reforça a minha ideia de que há espaço para debater esta questão pendente e essa discussão não pode ser adiada por muito tempo.

Talvez seja por pensar desta forma que minha memória sempre me remete à Simone de Beauvoir, quando faço uma análise da situação da mulher nos dias atuais. Suas ideias, teorias e a forma de se posicionar são referência ainda no século XXI. “O segundo sexo”, um ensaio crítico que ela escreveu em 1949, faz uma avaliação sobre o papel da mulher na sociedade. Não é à toa que esta é uma de suas obras mais celebradas e que tenha se tornado tão importante para o movimento feminino, como tantas outras em que sua própria história nos revela as angústias do ser feminino. Vale a pena ler — ou reler — e olhar com uma visão mais crítica essa abordagem ao universo feminino e os desdobramentos que ele tem alcançado. Porém, ainda insisto nesta reflexão mais profunda sobre como equilibrar esses dois lados que formam a essência feminina. Acredito que só quando eles caminham juntos é que se pode, de fato, comemorar as conquistas alcançadas.

Isabel de Farias
jornalista e sócia da Revide

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