Exemplo Oriental

Exemplo Oriental


É no exemplo que moram os maiores aprendizados, seja dentro de casa, na escola ou nos estádios.

No país do futebol, fica impossível, mesmo para quem não é um torcedor fanático, não acompanhar a Copa do Mundo — ainda mais quando a competição acontece em solo brasileiro. Como torcedora, confesso que pouco opino sobre as escolhas de Felipão ou sobre o desempenho dos craques dentro das quatro linhas. Muito mais me atrai aquilo que está fora do campo, nas arquibancadas dos estádios e fora delas.Do lado de fora, acredito que o saldo tem sido mais positivo do que imaginavam os brasileiros mais entusiastas. Pouco se noticiou sobre manifestações e atitudes de vandalismo — muito menos do que se imaginava, pelo menos. Apesar de obras inacabadas em vários cantos, o que se vê são torcedores de diversas partes do mundo satisfeitos por estarem aqui e encantados com a receptividade dos brasileiros. Sem ufanismo nem ignorando todos os problemas anteriores ao Mundial, especialmente no que diz respeito aos gastos públicos, gosto de vibrar com esse clima. Acho que uma dose de nacionalismo, quando consciente, não faz mal a ninguém e acaba por fortalecer a identidade de um país inteiro.

No entanto, para mim, o maior exemplo deste início de Copa aconteceu nas arquibancadas, e não veio dos brasileiros, mas dos japoneses. O primeiro episódio ocorreu na Arena Pernambuco, em Recife, na estreia do Japão contra a Costa do Marfim. Apesar do resultado do jogo, que terminou com a vitória do time africano, foram os japoneses que se sobressaíram. 

Munidos com sacos plásticos azuis, levados e distribuídos por eles mesmos, começaram uma verdadeira faxina pelas arquibancadas, recolhendo todo o lixo produzido durante a partida. A atitude virou notícia e se repetiu no jogo seguinte, contra a Grécia, em Natal. Desta vez, o gesto foi acompanhado por outros torcedores, brasileiros inclusive. O espírito cidadão importado do outro lado do mundo tomou conta de quem esteve presente na Arena das Dunas, e aconteceu de novo na Arena Pantanal, em Manaus. Na última terça-feira, mais uma lição de civilidade dos nipônicos, desta vez, acompanhada por mais gente ainda. 

Desses episódios, ressalto dois aspectos. O primeiro vem da educação oriental, que está baseada em aprendizados cívicos desde a infância. Não me lembro onde, mas li que os pequeninos japoneses participam ativamente da limpeza da escola, por exemplo. Supervisionados por responsáveis, contribuem para tornar os espaços comuns mais limpos, o que os faz conscientes, desde cedo, de sua responsabilidade sobre o local de convivência, como um sinal de respeito ao próximo. Uma reportagem de Roberto Kovalick, correspondente da Rede Globo no Japão, mostrou as ruas limpíssimas de Tóquio, cujo arremate é feito por voluntários, suas pinças e sacolas plásticas. Resultado assim só pode mesmo vir da cultura que, por sua vez, é criada por hábitos cultivados desde a infância.

Já o segundo aspecto que me saltou aos olhos foi a rápida participação de torcedores de outras nacionalidades na missão de limpar os estádios. Para mim, isso deixa claro que é no exemplo que moram os maiores aprendizados, seja dentro de casa, na escola ou nos estádios. Se o simples e nobre gesto dos japoneses foi copiado rapidamente, acredito que é possível promover uma mudança de comportamento mais significativa, cultural até, utilizando-se como ferramenta a disciplina exemplar que os cidadãos do Japão demonstraram em solo brasileiro.

É uma pena que a participação da Seleção Japonesa tenha se encerrado ao final da primeira fase. Mas tenho certeza de que, apesar de breve, sua passagem pelo Brasil foi bastante enriquecedora. Se no campo, o time liderado por Honda não teve tanta sorte, nas arquibancadas, os orientais deram um show.

Isabel de FariasSecretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

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