Figura de esperança

Figura de esperança

No último final de semana, estive em São Paulo, no Festival Piauí Globonews de Jornalismo. A iniciativa promoveu, no sábado e no domingo, uma série de conversas, palestras e bate-papos sobre a comunicação. A mesa que presenciei, no sábado, foi um diálogo entre a jornalista Consuelo Dieguez, repórter da Piauí, e a ministra presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia. 

A chegada da ministra ao Colégio Dante Alighieri, onde a conversa foi realizada, chamou a atenção: sem seguranças e sem um grande staff para acompanhar. Eram apenas dois assessores — um homem e uma mulher. Chegou perto da sala onde seria entrevistada e cumprimentou todos que a esperavam com um até tímido “bom dia”. A classe foi aberta, todos nos sentamos e a ministra entrou depois. 
O local era reservado para apenas 50 pessoas e isso também me impactou. Estávamos ali em alguns poucos privilegiados a ouvir a atual presidente do Supremo, um cargo que — opiniões pessoais sobre a postura da ministra à parte — é de fundamental importância na República.

Admiro Cármen Lúcia, embora o cenário político sempre nos deixe com o pé atrás em relação a qualquer personagem e nos plante a semente da desconfiança. Justamente por isso quis ainda mais participar da tal conversa. A despeito do contexto conturbado em que a ministra está inserida, diante de decisões consideradas, por algumas vezes, polêmicas, consigo identificar uma postura íntegra e coerente em seus discursos e ações.

Na conversa, quando questionada sobre a possibilidade de um ministro se considerar suspeito para julgar qualquer ação e se abster de um voto, Cármen Lúcia lembrou de uma situação que viveu no Tribunal, no caso dos planos econômicos. Seu pai, então com 97 anos, havia entrado com uma ação contra um banco por achar que possuía direito a uma correção monetária. Quando a ação chegou ao Supremo, a ministra se declarou suspeita. Pensou que se votasse contra os poupadores, pareceria mostrar falsa independência. Se votasse a favor, poderia aparentar decidir em função da ação do pai. Embora pareça difícil, a decisão de se abster também foi criticada – o que reforça a ideia de que, invariavelmente, não agradamos a todos. No fim, seu pai disse, então, que renunciaria à ação para que ela tivesse autonomia na votação. E foi o que fez.

Ao contar a história, a ministra afirmou que “o cidadão brasileiro tem que ir dormir sem ter de desconfiar, sequer, do que o juiz está fazendo”. Em outro momento, também disse que “todo homem é maior que seu erro”. Ao responder determinada pergunta (até visivelmente incomodada), convidou quem a critica a sentar na cadeira em que ela ocupa. Ainda arrematou com um sonoro “se o brasileiro soubesse o que eu sei, seria muito difícil dormir”, que ganhou manchetes de jornais no final de semana. 

Entre tantas frases de efeito, Cármen Lúcia consegue verbalizar aquilo que os brasileiros querem e precisam ouvir, especialmente em tempos tão tormentosos. Mesmo que seus impactantes textos soem como demagogos a alguns, fato é que precisamos de uma figura que represente a esperança de que há tempos melhores e possíveis no Brasil. Se veremos, na prática, o resultado de uma possível melhora, a história é outra. Enquanto isso, renovamos a força para acreditar que existe uma saída a tanto desgoverno no país. 

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