
Gente de mentira
Trinta anos pode não ser tempo suficiente para conhecer todas as pessoas que gostaria, mas é o tempo ideal para aprender com quem topei à frente. Nessas três décadas de Revide, alguns anos mais do que isso vivendo em Ribeirão Preto, encontrei todo tipo de gente. Gente boa, gente que muito me ajudou, gente que tentou me prejudicar, gente que foi indiferente a mim.
No meio de tanta gente, tenho a convicção de que o pior tipo com quem me deparei foi o tipo de caráter mentiroso, maldoso que se acredita do bem – e tenta fazer os outros acreditarem no mesmo, propagando a mentira.
Pensando sobre isso, lembrei de uma música da Rita Lee. A letra de “Reza” é uma espécie de oração para manter distantes as pessoas que fazem mal, que pesam o clima, que trazem negatividade. Acho uma excelente canção para ouvir e exorcizar da vida aqueles com quem eventualmente temos de conviver.
Acho que a letra desta música serve como uma luva para diversas situações. Há quem tenha energia pesada e que exale uma negatividade absurda. Dizem, sabiamente, que se uma pessoa fala mal de alguém para você, certamente ela fala mal de você para alguém.
Até pouco tempo atrás, tinha conseguido me manter apartada dessas pessoas. Busquei um círculo — pequeno, bem restrito, é verdade — de amizades junto de quem realmente confio e pouco precisei me relacionar profundamente com o tipo que me incomoda, que me consome a energia.
Por diversas circunstâncias da vida, aquelas para as quais não adianta buscar justificativas, precisei conviver e me deparar, diariamente, com o pior tipo de gente. O tipo que mente sem nem sentir e aproveita uma falsa simpatia para criar intriga. Uma falação que cansa, tira todas as energias, desanima.
Tentar rebater a mentira que contam, então, é o pior dos mundos. Quem se acostumou a mentir dá voltas ainda maiores para sustentar a falácia. Quando digo mentira, não falo de um falso “estou chegando, só mais cinco minutinhos”, sem nem ainda ter saído de casa. Falo de desvio de caráter, uma atitude quase patológica, de criar uma realidade que não existe, fato que não aconteceu, palavras que não foram ditas.
O que nos resta, diante dessas pessoas, é fazer a famosa cara de paisagem, do tipo “você finge que diz a verdade, eu finjo que acredito”. Assim a vida segue, o sistema político continua o mesmo, a bolsa não sobe ou desce, os planetas continuam orbitando em torno do Sol.
De qualquer maneira, sigo pedindo distância, cada vez maior, desse tipo de gente de mentira. Peço em minhas orações para não me aproximar novamente dessas pessoas. Recorro, de novo, à Rita Lee. “Que Deus me livre e guarde de você”.