Inércia e trabalho

Inércia e trabalho

O grande desafio é sair da inércia que tomou conta da sociedade, mudar a maneira de ver a realidade e tomar atitude.

É preciso insistir, persistir e acreditar: esses verbos têm me acompanhado durante toda a minha trajetória profissional. Sempre inquieta e indignada com a falta de oportunidades na vida, fui tentando achar caminhos que me mostrassem que é possível mudar qualquer situação. Para isso, precisava construir algo que me desse orgulho e prazer em realizar.

Lendo livros e me informando sempre — acredito que essas são as únicas atitudes que ainda podem salvar a humanidade —, percebi que apenas destemidos, teimosos e ousados conseguiram mudar o lugar em que viviam, transformando seu pequeno pedaço de realidade. “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, já nos ensinava Tolstói.

Temos modelos para nos espelhar, e a capacidade de realização de alguns nos mostram diversas possibilidades. Como podemos atacar este monstro que nos assombra e imobiliza nossa capacidade de mudar? Falamos muito em modificar o mundo e, para isso, sempre acreditei que as ações do dia a dia, pouco a pouco, poderiam se tornar muito com o tempo.

Propriedade da física, a inércia se refere a um corpo não submetido à ação de nenhuma força ou a um conjunto de forças de resultante nula. Nesta condição, o corpo não sofre variação de velocidade. Se está parado, permanece parado, e se está em movimento, continua na mesma direção e em velocidade constante. Este princípio, formulado por Galileu e, posteriormente, confirmado por Newton, é conhecido como primeiro princípio da Dinâmica, a 1ª lei de Newton, ou princípio da Inércia. Segundo ele, todos os corpos são “preguiçosos” e, por isso, não desejam modificar seu estado: se estão em movimento, querem continuar assim; se estão parados, não desejam se mover. 

Essa “preguiça” é característica de todos os corpos dotados de massa. Tal princípio pode ser observado, por exemplo, no movimento de um ônibus. Quando o ônibus “arranca” a partir do repouso, os passageiros tendem a se deslocarem para trás, resistindo ao movimento. Da mesma forma, quando o ônibus em movimento freia, os passageiros se movem para frente, tendendo a continuar na velocidade anterior. Para mim, o grande desafio é sair da inércia que tomou conta da sociedade, mudar a maneira de ver a realidade e tomar atitude. Precisamos estabelecer novos contatos sociais para que possamos sonhar com um modo de vida diferente. 

Há um mês, começamos o projeto “Ribeirão Mais Iluminada, Limpa e Cidadã”, no Jardim Progresso. Um dos objetivos da ação é trocar as lâmpadas de 70 w, 80 w e 100 w por lâmpadas de 150 w em todas as ruas. Nas avenidas, serão colocados dois braços de 250 w. Essas mudanças garantirão que a iluminação naquele bairro, assim como ocorrerá em diversos locais da cidade, seja a mesma oferecida em outras regiões, como o centro e a Zona Sul. Assim, estará garantida, pelo menos no que diz respeito à iluminação pública, a justiça social almejada. Junto à troca das lâmpadas, estamos levando diversos serviços públicos para a região: poda de árvores, tapa-buracos, recapeamento, recuperação da Unidade Básica de Saúde, pintura nas escolas e no centro comunitário, pintura de solo, enfim, todos os serviços relativos aos próprios da Prefeitura.

O bairro ainda é muito precário e possui muitas necessidades. Tenho visitado frequentemente a população do Jardim Progresso e estamos trabalhando para que a comunidade entenda, cada vez mais, a importância de cuidar dos espaços públicos, deixando-os mais limpos e bem cuidados. Isso só será possível quando os moradores, assim como toda a sociedade, criarem uma relação de pertencimento com o bem público. Uma das primeiras reivindicações da comunidade foi a colocação de uma caçamba, em uma determinada esquina, onde o lixo ficava acumulado. Desde que o pedido foi atendido, não se vê mais descartes acumulados naquele entorno. A questão foi resolvida por meio de uma ação simples, mas extremamente eficiente.

O objetivo maior do Ribeirão Mais Iluminada, Limpa e Cidadã é inspirar a população e levar cada pessoa a entender que, quando trabalha em conjunto com os agentes públicos, assume o poder transformador que de fato tem. Essa consciência poderá construir uma vida melhor para todos. É preciso apostar em ações coletivas baseadas na cooperação, que só acontecem quando se entende o conceito real do que é público.

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

 

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