A luz de Minas

A luz de Minas

Minas Gerais. Como não gostar desse lugar? Ir até lá é como reconhecer que o nosso País é maior do que todas as crises que possa passar. É visitar um Estado que nos deu Milton Nascimento, Lô Borges, Flávio Venturini e Samuel Rosa, só para citar algumas referências de qualidade da música nacional.

Hoje, visitar Minas Gerais é, também, estar na terra natal de quem nos dá um pouco de esperança: a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lucia. Pequena, franzina, mineira, que saiu daquele Estado para nos dar certa luz, nos fazer acreditar que o Brasil ainda pode dar certo. Discursos de peso em ombros tão pequenos, que, como ela disse em entrevista, carregam “a esperança do mundo”.

Talvez, toda essa esperança venha de Minas. Da paisagem mineira. Esse lugar é incrivelmente mágico e tem algo de extraordinário ali. E com um sentimento tão à flor da pele, embriagada pelas belezas que tanto me encantam, passo por Belo Horizonte e só consigo pensar em nosso País. Me  pergunto: por que ele não dá certo?

Claro que não terei uma resposta ou uma solução nestas poucas linhas que me restam de reflexão. Quando Raimundo Faoro, em seu livro emblemático “Os Donos do Poder”, explicou o que é o patrimonialismo em nossa nação, entendemos o período colonial brasileiro como a origem da corrupção e burocracia em nosso País. Segundo Faoro, toda a estrutura patrimonial foi trazida pelos portugueses e mantida por nós, tornando-se a base de nossa economia e política.

Um pensamento tão atual, mesmo 59 anos depois, já que esse livro foi publicado originalmente em 1958. Parece cristalino: quanto mais desiguais formos, menos nação seremos.

Como podemos ser um país de verdade, enquanto as nossas mazelas estiverem todos os dias na televisão a nos gritar que precisamos ser cidadãos? Quando será que o país vai se impor por essas belezas e também pela riqueza dos seus artistas, professores e pensadores?

Questionamentos e reflexões que não saíram de minha cabeça enquanto viajava, olhava a paisagem e conversava. Sim, muita conversa mineira. Porque em Minas também me lembrei da importância de cultivarmos o simples ato do diálogo. De compartilhar a companhia. Estamos tão preocupados com a agenda, as obrigações, que quando temos tempo para isso, entendemos, de fato, o valor da vida.

Volto a refletir. Quem sabe, depois de nos dar alguém tão sábio – e penso agora em Guimarães Rosa –, Minas não nos ajude a encontrar caminhos para melhorar nosso País. Talvez, em meio a tantas paisagens, haja uma luz. 

"Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer"

Guimarães Rosa

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