Mais do que a impressão

Mais do que a impressão

Conheci, no último sábado, um dos pré-candidatos ao governo do Estado de São Paulo, Luiz Felipe d’Ávila. Ele esteve em Ribeirão Preto para uma preleção aos filiados do partido sobre os motivos que o levam a se colocar como uma das novas lideranças políticas para governar o Estado mais rico da nação. Depois, conversou com alguns líderes empresariais da cidade, a convite do prefeito Duarte Nogueira, também do seu partido, o PSDB. Podemos dizer que aqui em Ribeirão já foi dada a largada para o pleito de 2018.

Em um primeiro momento, d’Ávila justificou porque resolveu entrar na política. Seu histórico profissional está relacionado à área: é cientista político, intelectual, estudioso das mazelas do Brasil. Tem oito livros publicados, entre os quais alguns apontam saídas para uma melhor gestão pública e ideias sobre como otimizar os recursos para atender a um maior número de cidadãos. A lista de problemas a serem resolvidos é grande. Envolve saúde, educação, segurança, desemprego e por aí vai.

Questionado por um empresário sobre o porquê de a educação não ser prioridade no País, o pré-candidato afirmou, com veemência, que esse é o grande desafio do Estado brasileiro. Até ousei questioná-lo, no encontro, sobre os motivos de São Paulo, o Estado mais abastado, apresentar índices tão medíocres no setor, lembrando que o partido do qual ele faz parte já está no poder há mais de 20 anos e não conseguiu levantar essa bandeira.

D’Ávila me respondeu que os índices de São Paulo são os melhores do Brasil. Brasil? Vamos comparar nosso desempenho com nós mesmos? Não me parece uma boa ideia e explico. Dados da plataforma QEdu, que avalia o desempenho dos alunos a partir de avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio, indicam a situação caótica que temos vivenciado. O levantamento mostra que apenas 50% dos alunos aprenderam o adequado em leitura e interpretação de texto até o quinto ano da rede pública no Brasil. Em números brutos, isso quer dizer que apenas 1,2 milhão de estudantes dos 2,4 milhões demonstraram o conhecimento apropriado. No Estado de São Paulo, o cenário não é muito diferente: 300 mil estudantes do total de 466 mil apresentaram um saber satisfatório na disciplina – o equivalente a 65%. Isso não me parece ser um parâmetro animador. 

O grupo político do qual ele faz parte tem como característica um certo imobilismo diante das questões mais urgentes: não sabe se apoia o questionável governo federal que aí está e se condena um de seus pares, pego em situação não tão republicana. Mas o pré-candidato paulista quer e acredita que pode fazer a diferença.

A despeito de d’Ávila ter apresentado boas ideias, o que me causa certa desesperança é ouvir a defesa de teses que já poderiam ter sido implantadas, uma vez – volto a reforçar – que o partido do pré-candidato já está há décadas no poder. Questiono por que não trazer essas propostas e implantar nas prefeituras comandadas por seu partido: a da nossa cidade, por exemplo.

Como fazer a teoria virar prática? Como não ficarmos reféns, mais uma vez, em outra eleição, de belos discursos cujas realizações são improváveis? Como sair da estagnação social e avançar com medidas efetivas?  Tenho a impressão de que é mais fácil falar do que fazer. Ainda assim, desejo muita sorte a esse homem público que conheci, que se apresenta como alternativa de liderança para nosso Estado, e a todos os outros, que também despontam como possíveis novos gestores. Belos discursos impressionam, mas não fazem mais do que isso. 

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