Menos crise, mais criatividade

Menos crise, mais criatividade


Os últimos meses têm sido prósperos em notícias negativas, especialmente no que diz respeito à economia do Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) provavelmente não passará de um “pibinho”, em letras minúsculas mesmo. Assim, a crise parece ir ganhando corpo, levando o mau humor a tomar forma e criando nas pessoas quase um discurso uníssono: estamos em meio a uma crise.

De crise, a maior parte dos brasileiros entende bem, pois já enfrentou algumas. Como empresária há quase 30 anos, passei por diversos momentos econômicos complicados, assim como muitos ribeirãopretanos guerreiros e persistentes. Comemorei, também, a conquista da estabilidade que chegou com o Plano Real e que já completa duas décadas. Junto com ela, otimismo e boas perspectivas, muitas delas concretizadas. Quem viveu a segunda metade dos anos 80 sabe que tem menos do que reclamar atualmente — pelo menos, no que diz respeito à economia.

Lá atrás já se falava no Brasil como o país do futuro. Mas, para mim, o futuro chegou sem que o a nação concluísse algumas lições de casa importantes. A capacidade de planejar e de fazer investimentos no longo prazo, por exemplo, não estão entre as ações tomadas no setor público — e, infelizmente, no mundo empresarial também não. Essas medidas não fazem parte da cultura do brasileiro talvez porque ele tenha estado, em tempos de crises intensas, sempre correndo atrás do prejuízo. 

Mais um cenário adverso vem tomando conta do país em um ano atípico, marcado por um evento de proporções mundiais e por eleições, federal e estadual. A Copa do Mundo suscitou opiniões quase antagônicas antes, durante e depois dos jogos. Com a bola rolando, o país entrou em estado de espera, como se nada pudesse prosseguir antes da conquista (ou não) do hexa brasileiro.  Depois de um mês, além da ressaca pelo desempenho em campo, a Alemanha deixou algumas lições antes de embarcar rumo à Europa com a taça na mão. Ficou evidente, por exemplo, que o campeão construiu sua vitória aos poucos, com uma boa dose de planejamento e outra de investimento.

Entre essas ações, planejar não é muito comum por aqui. No setor público, do qual me aproximei recentemente, a impressão que se tem é que o futuro a ser projetado sempre está mais à frente, depois de questões urgentes que falam mais alto do que o planejamento de amanhã. Mas a justificativa não convence aqueles que reconhecem que o futuro, na verdade, está logo ali. Infelizmente, ainda lutamos, em todos os segmentos, para manter a roda girando. 

Neste segundo semestre restou aos brasileiros mais uma espera: pelas eleições de outubro. Agora, a indefinição passa pela manutenção ou pela mudança dos líderes políticos. Depois disso, deve seguir até que fiquem claras quais serão as primeiras ações de quem ocupará os principais cargos decisórios do país e do estado e como se comportará o mercado diante delas. 

Para não acionar o “stand by” de vez e assistir ao país parando, é hora de espantar o perigo de vê-lo estagnado. A oportunidade que vislumbro, juntamente com o planejamento, é apostar nas pessoas e na capacidade criativa de quem já está acostumado a lutar pela sobrevivência. Tenho convicção de que, juntando o comprometimento das pessoas e a criatividade, é possível passar, mais uma vez, por um ano atípico, sem grandes perdas para o tal ‘futuro’’ próximo e viver plenamente um presente mais produtivo.

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

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