Não vai dar certo

Não vai dar certo

Hoje, nada me incomoda mais do que o pessimismo. É claro que, por muitas vezes, sentimos a desesperança no Brasil – e até mesmo já escrevi nesta coluna sobre o assunto um sem número de vezes. No entanto, provar desse sentimento quando o assunto é a própria vida, não dimensionada no território de um país, deixa o buraco ainda mais fundo. 

Posso dizer que o que realmente me tira a vontade de continuar lutando para combater as dificuldades e adversidades é a falta de crença daqueles que caminham junto. Nunca exigi meu otimismo exacerbado e “polianesco” de ninguém, mas sempre esperei, minimamente, que uma parcela dos que me acompanham incentivassem minha persistência. Percebi, no fim, que essa não é uma expectativa minha, é dos seres humanos.

Eu poderia apostar que até os próprios pessimistas se sentiriam desmotivados ao lado de seus pares, que jogam por terra qualquer nova ideia ou tentativa de resistência diante das dificuldades. “Não vai dar certo” e “não vai virar” são duas das piores expressões que alguém pode ouvir quando está disposto a empreender força em alguma iniciativa.

Refletindo sobre tudo isso, fiz o que costumo fazer quando, para mim, o assunto é autoquestionamento: ensimesmei-me. Pensei em procurar referências na literatura (que também é outro hábito que sigo nesses momentos), mas talvez não fosse o momento de me deparar com tanta autoajuda. Nem os melhores livros, que sempre nos fazem acreditar no quão bom somos, pareciam adequados.

Quando nos deparamos com o pessimismo ou algo que nos retira todas as forças, em qualquer sentido, temos, fundamentalmente, duas opções: carregar o sentimento de que é possível dar a volta por cima e provar que a realidade pode ser diferente, ou deixar a má vibração tomar conta, entregando os pontos e o jogo.

Por estar à frente de uma empresa há mais de 30 anos, naturalmente minha conduta sempre foi a favor da primeira opção. É, realmente, como acho que qualquer um, diante de tantos problemas e dificuldades como a condução de um empreendimento no Brasil, deve se portar. 

Fácil não é, nunca foi e certamente não será. Seria prepotência e egoísmo querer impor um modelo de vida e sentimento a todos, apenas para que fôssemos mais estimulados a seguir lutando. Pessimismo, desânimo, descrença e desesperança são apenas alguns dos fantasmas que encontramos por aí, ainda mais em um momento tão turbulento quanto este pelo qual passa nosso país.

Reagir ao que nos acontece é tão automático que raramente paramos para pensar como nos comportamos diante daquilo que é desestimulante (e reincidente). Você já reparou em como responde a cada adversidade? E a cada feedback daqueles com quem convive?

Quando Michelangelo foi convidado pelo Papa Julio II para pintar a Capela Sistina, negou. Ele não gostava de pintar, porque considerava a pintura uma arte inferior e tinha paixão, mesmo, por esculpir. Depois da insistência e certa imposição do clero, aceitou. Michelangelo aprendeu fazendo e não esperou todas as condições ideais para tentar.

Talvez até Michelangelo tivesse, ao seu lado, pessoas que desacreditassem que seria possível. Talvez, em conversas informais com os mais próximos, ele confessasse a insegurança e a falta de vontade em aceitar o convite do papa. Talvez alguns amigos tenham dito que seria impossível ele fazer um bom trabalho, já que não era a praia dele. Talvez Michelangelo tenha ouvido (ou pensado) o tal “não vai dar certo”.

Já pensou se ele tivesse acreditado em tudo isso?  

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