Ninguém sai ganhando

Ninguém sai ganhando

Tudo quanto aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade. Adoraria que a frase fosse minha, no entanto, aproprio-me dos dizeres de Victor Hugo, séculos depois, ao refletir sobre um problema tão atual quanto intenso: a descriteriosa onda de ataques, xingamentos e propagação do ódio que se faz assustadoramente presente nas redes sociais.

Com a tela em branco, pronta para a postagem, expressar-se ficou fácil e confortável, sem censura ou limitação: podemos publicar aquilo que quisermos, sobre quem bem entendermos, a qualquer momento. Não importa se a informação procede ou não, se foi checada ou inventada. A liberdade criativa dos internautas, muitas vezes condicionada por dissociações e teorias da conspiração, atinge níveis avassaladores, prejudicando gente que é caluniada sem ao menos ser ouvida.

Os exemplos na política são muitos, sejam de direita ou de esquerda. Há invencionices sobre partidários de qualquer legenda e ninguém está muito preocupado em ouvir o lado do acusado. A moda é propagar a informação que você acredita, seja ela verdadeira ou falsa.

Foi dessa maneira que as “fake News” ganharam — e ganham — espaço. A confusão entre o pensar e o querer é cada dia mais intensa e talvez os autores das calúnias se utilizem daquela máxima de que “uma mentira repetida mil vezes vira verdade” para tentar emplacar a informação falaciosa sobre o alvo da injúria.

Com as leis virtuais ainda caminhando a passos bem mais lentos do que o acesso à tecnologia e às redes sociais, fica difícil saber qual é o melhor caminho a ser tomado e como aqueles que se sentem prejudicados podem se resguardar ou se defender das inverdades compartilhadas na internet.

É fato que ainda não existe antídoto tão eficaz para o desejo de caluniar quanto o respeito pelo outro e a responsabilidade sobre aquilo que dizemos. No mundo virtual, comportamo-nos como bárbaros em um campo de batalha, atacando, sem argumentos, aqueles que, por algum motivo, desagradam. A tela do computador ou do celular se transformou em um ringue aberto ao público: podemos decidir se assistimos de camarote aos desentendimentos ou se participamos ativamente da guerra.

Talvez o grande problema desse tipo de confronto, no entanto, seja exatamente o fato de que ele sempre chegará ao fim sem nenhum vencedor. O agredido e o agressor sairão sempre derrotados, cada um à sua maneira, cambaleando diante da selvageria nada humana.

Com o passar do tempo e o desenvolvimento da tecnologia, temos ganhado cada vez mais espaço para exprimirmos nossas opiniões aos outros, mesmo que ninguém queira nos ouvir ou ler. O que precisamos desenvolver, agora, é uma responsabilidade tão proporcional quanto essa liberdade. De uns tempos para cá, afinal, temos usufruído de nossos direitos sem cumprir com nossos deveres. É certo que já está mais do que na hora dessa balança entrar em equilíbrio. 

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