No meio do caminho havia uma tampa

No meio do caminho havia uma tampa

Faz sete meses que pedalo pela ciclofaixa de Ribeirão Preto aos domingos de manhã. Confesso que, ultimamente, esta tem sido uma das atividades que mais me dá prazer. Além do bem-estar que o exercício físico traz (sou grande entusiasta da prática e fã da endorfina), as horas em que pedalo também são um bom momento para refletir. No circuito, repetido cinco, seis e até sete vezes, tenho tempo suficiente para pensar sobre diferentes assuntos. Às vezes, brotam ideias que levo para a revista na semana seguinte, às vezes, apenas devaneio.

Na última semana, em um desses passeios de bicicleta, desviei de uma grande quantidade de terra, perto do Parque Curupira, na Travessa José Guerre, ao lado da alça de acesso do viaduto Ayrton Senna. Aquela não era uma novidade do dia. Nas semanas anteriores, também já havia me incomodado com essa interdição. Recuperei em minha memória há quanto tempo aquela esquina apresentava problema.

No início, era uma tampa do Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto), dessas que todos já vimos na cidade e que servem como proteção — no caso, de um poço de visita. Há pelo menos quatro meses, essa tampa quebrou e o buraco ficou à mostra. Por semanas, pedestres e ciclistas colocavam galhos dentro do buraco para sinalizar o risco. 

A cada domingo era uma surpresa diferente, um tipo novo de galho ou cavaletes  que se quebravam. Até que, por fim, a área foi cercada com fitas. Há um mês, uma movimentação começou por ali: a terra tomou conta da rua, como se uma obra tivesse início. De fato, o trabalho começou, mas quase um mês depois ainda não terminou. 

Fato é que se trata de um caso simples: apenas um buraco, apenas uma tampa, apenas uma esquina. Acredito que são casos como esse que deixam clara a morosidade do poder público e a dificuldade em se executar tarefas básicas para o bem-estar da população. O maior problema não está na rua, mas no que aquilo tudo representa.

Penso que há um alicerce na prestação de serviços básicos que deve ser preservado: asfalto, limpeza pública, distribuição de água e coleta de esgoto. Claro que todos os outros setores, como Educação e Saúde, devem ser bem trabalhados. Aquelas tarefas que compreendem minimamente as necessidades da cidade e que garantem infraestrutura para a população sustentam os outros atendimentos. Elas asseguram a dignidade de quem vive no espaço público.

Enquanto estive na Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura de Ribeirão Preto, uma das maiores dificuldades que pude experimentar foi a falta de diálogo da pasta com o Daerp. Por mais que eu tentasse alguma interação, o trato com a autarquia foi sempre muito difícil. Uma série de reparos na rede subterrânea era feita depois de um recapeamento, por exemplo. Parece inacreditável, mas é verdade. O novo asfalto, com frequência, é quebrado para o conserto da canalização. E por que não se conserta antes de recapear? Até hoje ninguém me deu uma resposta convincente e certeira.

Talvez neste domingo eu pedale mais uma vez na ciclofaixa. Talvez, no meio do caminho, eu encontre uma tampa. Talvez seja um buraco, talvez seja uma obra. Mesmo depois de meses, não custa sonhar com a solução. 

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