O poder de um inimigo

O poder de um inimigo

Todos temos amigos. Uns têm mais, outros têm menos. Acho que tem muito a ver com a maneira como cada um de nós é forjado a levar a vida, compartilhando vivências e sentimentos, ou optando por manter tudo isso o mais reservado possível.

Imagino que eu faça parte do segundo grupo. Nunca fui de dividir assuntos íntimos e pessoais com muita gente. Tenho poucas pessoas realmente próximas de mim que sabem sobre minha vida, minhas preferências, minhas opiniões, sentimentos e, especialmente, meus desentendimentos e minhas irritações. Não posso afirmar que esse é o modelo ideal, mas foi assim que me formei pessoalmente e, certamente, será assim que continuarei seguindo.

Até admiro quem tem facilidade em compartilhar tudo o que sente, mas tenho a impressão que, em muitos casos, essa partilha pode vir carregada de impressões equivocadas e pode prosperar más sensações, muito em função de uma máxima que faz todo sentido em grandes conflitos e pequenos desentendimentos: nada une mais duas pessoas do que um inimigo em comum.

Parece só uma daquelas frases feitas, mas há comprovação científica. Um estudo feito nas universidades de Oklahoma e do Texas, no final de 2016, comprovou que desgostar das mesmas pessoas é um fator de fundamental importância na aproximação entre os seres humanos.

Os pesquisadores pediram que os participantes tentassem lembrar como nasceram suas amizades mais duradouras. O resultado mostrou que a maioria dos relacionamentos tinha surgido porque os amigos começaram a compartilhar opiniões negativas sobre conhecidos em comum. 

A constatação é ruim por si só, mas dá para entender a pesquisa, principalmente se você fizer uma reflexão sobre como nasceram suas próprias amizades. Talvez chegue à mesma conclusão do estudo. O pior, para mim, é pensar que muitas dessas reclamações podem partir de conversas particulares e se transformar em fofocas e detrações, que se perdem no meio do telefone sem fio.

O efeito colateral de uma informação maldosa passada adiante pode ser irreparável. É a tal história do travesseiro. Imagine subir no alto de um prédio, rasgar um travesseiro e deixar todas as penas caírem. Tente descer e recolher todas as penas. Tarefa impossível, assim como impedir as mentiras de prosperarem, depois que já se tornaram fofocas. 

Não sei bem o motivo, mas sempre tive horror à boataria e à falação. Minha postura diante desse tipo de conversa foi sempre desviar o assunto e não fomentar os comentários maldosos. Dessa postura não me arrependo. Falar mal dos outros pode aproximar duas pessoas (ou mais), conforme constatou a ciência. Não tenho dúvidas de que é o tipo de comportamento que mais causa prejuízos a nós mesmos e a quem está perto da gente. 

Como dizem, o que criticamos no comportamento e na postura de alguém pode sempre dizer mais sobre nós mesmos do que sobre o alvo da maledicência. Se tanto falamos de empatia, no mundo todo, por que não a praticamos nos pequenos atos diários? Não dá para promover a paz no mundo se a guerra continuar dentro de cada relação humana. 

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