O preço da intolerância

O preço da intolerância

Um ditado popular afirma que é melhor ser feliz do que ter razão. Dá trabalho entrar em discussões, fomentar debates e, mais ainda: ouvir uma opinião contrária à sua. Em tempos de nervos políticos à flor da pele, tudo isso fica ainda mais insustentável. Para quem, como eu,  já desistiu de trocas de ideias em que não há ideias, mas opiniões enraizadas sem qualquer embasamento, a melhor saída é evitar emitir qualquer julgamento. 

Não pense que desisti de opinar na primeira tentativa. Foram muitas, com muita gente. Decidi evitar a fadiga quando percebi que é impraticável, em determinados cenários, trocar ideias sobre algum assunto. É um caminho trabalhoso, mas bem mais decepcionante, porque é triste acreditar que a humanidade, em milhares de anos de evolução, tenha retrocedido à barbárie, optando pela agressividade em vez do diálogo.

Não é raro que as discussões políticas terminem em brigas, agressões físicas ou que coloquem um ponto final em relacionamentos de anos. Dependendo da maneira como se lida com a opinião divergente do outro, o resultado pode ser extremo e a consequência irreversível. Para mim, que sempre apostei na educação e no debate como formas de evolução social, é triste tentar estabelecer algum diálogo sobre o que quer que seja e ouvir, em troca, qualquer frase desconexa em alto volume. Foram-se os argumentos, surgiram os gritos. 

Ser intolerante com relação à opinião oposta é um caminho cuja volta é muito difícil. Negar e aumentar o tom de voz para ganhar o debate é como escolher um atalho. Prestar a atenção no julgamento do outro e refletir sobre o que ouviu é a estrada mais longa e, talvez, um pouco esburacada, com trânsito mais lento. 

Claro que buscar esse atalho sempre foi o caminho mais facilmente procurado pelo homem. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que viveu de 1788 a 1860 (há três séculos!), deixou uma obra chamada de “A arte de ter razão”, que reúne 38 estratégias para se vencer um debate, sem estar necessariamente certo sobre o tema. Os capítulos têm títulos como “Confunda a argumentação”, “Desestabilize seu oponente”, “Desqualifique o argumento do outro”, “Provoque o oponente” e o trecho conclusivo “Como último recurso, parta para o ataque pessoal”.

Terrível é pouco para classificar o resultado possível de uma discussão em que algum dos interlocutores utilize essas estratégias. Fato é que, mesmo sem saber, muitos têm utilizado esses meios para balizar os debates – principalmente com relação à política.

Talvez o efeito mais nocivo desse tipo de posicionamento, além da intolerância que se propaga e as opiniões extremistas que passam a se enraizar entre nós, seja o dano que tudo isso causa às relações interpessoais. No fim, é uma questão de escolha e daquilo a que damos valor. Quanto vale a sua opinião, ou quanto vale a vitória do seu candidato? Vale um relacionamento familiar ou uma amizade duradoura? 

Estou certa de que é por isso que optei por evitar as discussões. O preço a pagar por uma opinião política mais exaltada, às vezes, é alto demais. Evitar a fadiga, pelo próprio bem-estar e para preservar o afeto, tem sido minha opção número um. E a quem também preza pela pacificidade das relações, vale se amparar na afirmação de Pitágoras: “o começo da sabedoria é o silêncio”. 

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