O tamanho das coisas

O tamanho das coisas

Tenho pensado sobre o quanto nos perdemos diante da efemeridade da vida. A fluidez dos problemas e dos pensamentos mudou nossos valores diante das dificuldades, das intempéries. Pequenas confusões se tornaram grandes, em um piscar de olhos. 

Acredito que perdemos nosso referencial e passamos a dar às coisas tamanhos maiores do que elas têm. Não raro, discussões políticas em redes sociais acabam com amizades, desentendimentos no trânsito se transformam em brigas, desafios no trabalho podem deprimir.

Com o excesso de informação que consumimos e absorvemos o tempo todo, vivemos em um mundo ansioso, em que tudo parece estar distorcido. É só reparar na economia, por exemplo. Quando acontece algo distante de nossa cidade, ainda assim conseguimos sentir os efeitos. Foi o caso da eleição de Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos. A reação foi imediata: bolsas caíram e o dólar disparou. O mundo inteiro sentiu o impacto de apenas uma ação.

Perdemos as raízes e as identidades. Estamos todos extremamente conectados, sentindo os efeitos dessa conexão de uma forma estressada, pesada. É preciso leveza para tratar os problemas e essas relações. É preciso leveza para estar próximo de quem gostamos e é preciso empatia para se colocar no lugar do outro e entender suas razões para agir de maneira específica. A ansiedade nos faz antever os problemas, faz criar as dificuldades, que na hora não são bem como imaginamos. Ela nos arma para o que pensamos que irá acontecer e nos deixa tensos. O resultado é a tensão no presente, sem aproveitá-lo, sem viver. 

Acredito que diante de tantas confusões — mentais ou reais —, o que a gente precisa é se manter em paz com a gente mesmo. É ter a certeza de que fizemos o que deveria ter sido feito, por menores que sejam as atitudes. É dormir com a consciência tranquila, certos de que os erros cometidos foram na intenção do acerto. 

Claro que no meio dessa caminhada há perdas, há dores e há incompreensão. Há muita pedra no caminho, mas estou certa de que precisamos estabelecer o equilíbrio interno, avaliar o que acontece ao nosso redor a todo momento, sem exagerar nos pesos e nas medidas. Acredito que assim conseguiremos estabelecer relações de amizade mais sólidas, honestas e humanas. 

O poema “O Livro sobre Nada”, de Manoel de Barros, sintetiza todo esse sentimento muito bem, logo na primeira frase: “é mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez”. E como é. 

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